Algodão
Cotonicultura brasileira deve manter-se em alta no ciclo 2018/2019
Abrapa afirma não faltar mercado para o algodão brasileiro
Abrapa afirma não
faltar mercado para o algodão brasileiro, mas a infraestrutura para uma
nova safra recorde preocupa. Entidade apresentou os números do setor na
safra 2017/2018 e as projeções para 2018/2019, em coletiva de imprensa
em São Paulo, com representante da indústria e dos exportadores.
Produção e exportações recordes e
produtividade em alta marcam o fim do ciclo 2017/2018 para a
cotonicultura brasileira, que aguarda um ano ainda mais promissor em
2019. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão
(Abrapa), a produção no país deverá ser de 2,5 milhões de toneladas,
contra 2,1 milhões na safra recém encerrada, com previsão de embarque
para o exterior de aproximadamente 1,5 milhões de toneladas de pluma, o
que fará do Brasil o segundo maior exportador mundial da commodity,
atrás apenas dos Estados Unidos, que exporta 3,5 milhões de toneladas. O
incremento está exigindo planejamento e ações por parte da cadeia
produtiva, que se prepara para o escoamento e o eventual armazenamento
de um volume maior de algodão, assim como para um fluxo mais longo de
beneficiamento, embarques e mesmo de capitalização do produtor. O
consumo da matéria-prima na indústria nacional deve ficar em torno de
750 mil toneladas de pluma. A indústria brasileira de têxteis condiciona
qualquer aumento de demanda ao fortalecimento da confiança e à retomada
do consumo das famílias, que este ano priorizaram a compra de bens mais
duráveis, como eletrodomésticos, em detrimento dos chamados “bens de
salário”, como roupas.
Em uma coletiva de imprensa em São Paulo
ontem (03/12), com participação da Associação Nacional dos Exportadores
de Algodão (Anea) e da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecções (Abit), a Abrapa expôs o desempenho do setor em 2018 e da
entidade no biênio finalizado. Na ocasião, o atual presidente da
associação, Arlindo de Azevedo Moura apresentou seu sucessor no
comando da entidade, o produtor Milton Garbugio, cotonicultor do Mato
Grosso, que assume a gestão com a nova diretoria a partir de 1º de
janeiro próximo.
Segundo Moura, a época do seu mandato na
presidência da entidade coincidiu como uma fase muito favorável para a
cotonicultura do Brasil, exceto pelas indefinições na conjuntura
político-econômica. “O clima ajudou às lavouras; os preços remuneraram
bem o produtor, que, animado, plantou mais. No meu discurso de posse, em
2016, arrisquei uma projeção. Disse que o Brasil poderia dobrar a
produção de pluma em cinco anos. Errei. Isso aconteceu ao longo das
últimas três safras. Parte disso, graças à retomada na ocupação de áreas
que haviam retraído em safras anteriores, principalmente em virtude de
problemas climáticos”, afirmou.
A área plantada com o algodão saiu de 949
mil hectares, em 2016; passou para 1,175 mil hectares, em 2017, chegando
a 1,426, em 2018, um crescimento de 50,2%, de 2016 a 2018. De acordo
com Arlindo Moura, a valorização dos preços é fruto do crescimento do
consumo mundial, reforçado, em especial, pela redução gradativa dos
estoques na China. “Essa conjunção de produtividade boa com preços
atrativos é que puxa o aumento de área a cada ano. Esse crescimento de
18%, 20%, 25% ao ano não é de graça. É um sinal de que a cultura está
deixando rentabilidade ao produtor. A retomada de área foi na Bahia,
Goiás e Mato Grosso do Sul. No Mato Grosso, foi crescimento sim”,
afimou.
Para Moura, os gargalos na comercialização
de algodão já não são mais de mercado. Tudo o que a gente planta tem
quem queira. “Nosso grande problema são contêineres, portos, caminhões e
infraestrutura em geral. Tudo isso, agravado pelo tabelamento do frete,
resultado da greve dos caminhoneiros. O algodão ia para o porto e
voltava com fertilizante. O frete de retorno gerava um custo bem
inferior. Hoje a tabela é cheia para a ida e a volta, e já tem um preço
acima do de mercado. Há um movimento grande, principalmente das
tradings, de comprar frota para tentar reduzir o problema, o que não é a
atividade core delas”, disse. Para a próxima safra, Moura afirma que
mais de 60% já foram comercializados.
Exportações
O presidente da Anea, Henrique Snitcovski,
afirmou que a estimativa da entidade dos exportadores é de que o mês de
novembro de 2018 seja um recorde histórico em exportação de algodão, de
200 mil toneladas. Antes dele, a maior marca havia sido em outubro de
2012, quando o Brasil mandou 188 mil toneladas para o mercado externo em
um único mês. Sobre os gargalos que marcaram a safra 2017/2018,
especialmente causados pela falta de contêineres, ocasionada pela
diminuição das importações, Snitcovski afirma que os diversos elos da
cadeia produtiva da fibra se uniram em um Grupo de Trabalho (GT), no
âmbito da Câmara Setorial do Ministério da Agricultura, para estudar o
problema e propor soluções.
“Estamos fazendo uma ação de curto prazo
para colher benefícios em médio e longo prazo, pelo setor, para a gente
entender um pouco mais qual a realidade e melhor se planejar para esse
gargalo. O gargalo não prejudica apenas ao produtor e ao exportador, mas
o setor produtivo como um todo, pois ele deixa de executar quando
precisa e a performance está relacionada à rentabilidade”, afirmou.
Avanço no ranking
De acordo com a Anea, o Brasil deverá
galgar um novo patamar no ranking dos maiores exportadores do mundo ao
término da safra de 2019. “Essa safra de 2018, de 2,1 milhões de
toneladas, ainda está sendo embarcada e a nossa expectativa é de que o
Brasil exporte pelo menos 1,2 milhões de toneladas. Se isso acontecer – e
só saberemos disso em junho do ano que vem, uma vez que o período de
exportações dessa safra se dá de julho de 2018 a junho de 2019 – teremos
alcançado a segunda posição. Hoje o International Cotton Advisory
Committee (Icac) fala em terceiro lugar. Éramos o quarto. Passamos a
Austrália e ficamos atrás da Índia e dos EUA. Só que a nossa expectativa
é que o Brasil passe a Índia e fique atrás dos EUA, que exporta 3,5
milhões de toneladas”, projeta Snitcovski.
Dentro dessa nova realidade, o desafio,
segundo o presidente da Anea, é manter a posição. “O consumo de algodão
no mundo está voltando a crescer e o Brasil está num momento muito
importante para consolidar essa produção. O mundo quer regularidade,
qualidade e capacidade de execução. Não basta exportarmos muito para
determinados países, mas termos uma participação expressiva nas
importações deles, e isso depende desse tripé”, afirma.
Fluxo alongado
Uma das mudanças advindas do aumento do
volume de produção e, consequentemente, de embarques, é que as
exportações que, tradicionalmente, se concentravam no segundo semestre,
terão de ser distribuídas ao longo do ano-safra, ocasionando, inclusive,
maior estoque de passagem. “Historicamente, entre 65% e 70% do algodão
são exportados durante o segundo semestre do ano. Com uma safra maior, a
gente vai ter de equilibrar um pouco mais esse movimento. O estoque de
passagem do ano-calendário será maior. Estamos discutindo no GT o fato
de que os fluxos de entrega vão se alongar, o que significa que os
fluxos financeiros do produtor também se prolongarão. O mercado terá
fluxo um pouco mais distribuído ao longo do ano”, conclui.
Consumo interno
Na visão da indústria, representada pela
Abit, 2018 foi marcado pela queda no consumo e na produção, e pelo
crescimento das importações. Uma boa safra, na opinião do presidente da
Abit, Fernando Pimentel, é bem-vinda na medida em que assegura o
abastecimento de matéria-prima para a produção. “Neste ano, houve também
um forte aumento de preços dos insumos industriais, não apenas de
algodão, mas de corantes, dentre outros, e isso afetou muito os nossos
custos, e o setor que não consegue repassar nos preços para a ponta da
cadeia, dada a situação mais apertada no poder de compra das famílias”,
disse. “O mercado varejista não aceita aumento de preços, tanto que o
IPCA do vestuário está negativo este ano e a indústria acaba absorvendo
um monte de custos que drenam sua rentabilidade e capital de giro. Então
essa é uma realidade dura”, lamenta Pimentel.
Para o ano de 2019, a Abit é reticente nas
projeções. Segundo ele, a associação aguarda uma definição do quadro de
mercado mundial, à luz da guerra comercial entre China e EUA, e os
reflexos disso na oferta do algodão brasileiro no mercado externo e as
suas relações com o mercado interno. “A boa safra prova a competência e o
vigor da cotonicultura brasileira. O Brasil tem a maior cadeia
produtiva integrada do ocidente. Dentre as matérias-primas têxteis que
nós transformamos internamente, a maior parcela é de algodão, apesar do
crescimento forte das fibras sintéticas, puras ou misturadas com o
próprio algodão”, diz.
Em 2017 e 2018, Pimentel afirma não ter havido problema de quantidade de algodão.
Mas registraram queda de produção. “Para o
ano que vem, em havendo uma retomada de consumo em função de um efetivo
andamento das reformas necessárias para o Brasil voltar a crescer, nós
teremos um pouco mais de visão do que vai ser o mercado. A Black Friday,
segundo os grandes varejistas, foi melhor do que a do ano passado, mas o
mercado não é homogêneo. No geral, como eu falei, temos queda de
consumo em 2018, até os dados últimos que recebemos, de setembro”,
afirmou.
Bens duráveis
Em 2017, o consumidor brasileiro optou
mais pelos produtos têxteis, e o consumo cresceu 7,6%. “Esse ano, ele
elegeu outras prioridades, os bens de maior valor, mais dependentes de
crédito, além daqueles que atendiam à demanda para a Copa do Mundo.
Mesmo havendo um pouco de aumento de emprego, os bolsos continuam
apertados. A confiança do consumidor foi muito prejudicada na época da
greve dos caminhoneiros e também por conta de uma eleição extremamente
disputada e polarizada. O ambiente ficou muito acirrado no país e o
consumidor fez opções que acabaram levando a maior parte da sua renda de
consumo para o tema de outros bens mais dependentes de crédito”,
explica.
De acordo com Fernando Pimentel, depois de
alimentos, os custos com vestuários representam o segundo maior consumo
das famílias, equivalentes a RS$220 bilhões por ano. “Se somar
vestuário, decoração, sapatos, artigos de cama, mesa e banho, vai-se a
mais de R$400 bilhões por ano”, afirma. Ele diz ainda que para o mercado
crescer é preciso que o consumidor recupere a confiança no país. A
confiança é uma força motriz. Temos uma perspectiva melhor de consumo
para os chamados bens de salário. São os itens menos dependentes de
crédito, que são comprados com a renda do mês”, finalizou.
Novo presidente da Abrapa
Natural de Marialva, no Paraná e produtor
de algodão, soja, milho e gado no estado de Mato Grosso, Milton Garbugio
vai estar no comando da Abrapa no próximo biênio. Sua trajetória é
marcada tanto pela atuação como agricultor, como na representação de
classe, que começou a partir de 2011, depois de Garbugio haver passado
sete anos à frente da Cooperativa dos Cotonicultores de Campo Verde
(Cooperfibra). No biênio 2013/2014, presidiu a Associação Mato-grossense
dos Produtores de Algodão (Ampa). É presidente da Cooperativa Mista de
Desenvolvimento do Agronegócio (Comdeagro/Ampa) e também do conselho da
Companhia das Cooperativas Agrícolas do Brasil Participações (CCAB
Participações). Atualmente, conclui seu mandato de vice-presidente da
Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
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