2000/2018 - Evolução da produção e venda de Etanol no Brasil
O setor
sucroalcooleiro é um sistema agroindustrial basicamente estruturado em
três níveis. Primeiramente, são feitas as escolhas das terras para
plantação e cultivo dos canaviais ou são firmados contratos de longo
prazo com produtores rurais para fornecimento da cana-de- açúcar.
Posteriormente, é feita a colheita da cana-de-açúcar, a qual é levada ao
processo de industrialização, com foco principal na produção de açúcar,
etanol hidratado (utilizado em veículos) e anidro (destinado à mistura
na gasolina), e a cogeração de energia elétrica para usinas com
tecnologia recente. Ao final, é feita a comercialização desses produtos.
O setor sucroalcooleiro brasileiro,
segundo dados de 2018, da União dos Produtores de Bioenergia apresenta
411 usinas sucroalcooleiras espalhadas pelo país, estando a maior parte
concentrada no estado de São Paulo (172), seguido por Minas Gerais (42) e
Goiás (38). A área plantada de cana-de-açúcar, segundo a Companhia
Nacional de Abastecimento (CONAB, 2018), para a safra 2017/2018, foi de
8,73 milhões de hectares, sendo mais de 50% dessa área plantada e
cultivada no estado de São Paulo.
Assim sendo, entre os principais fatos
que explicam o aumento da demanda do etanol e a sua importância no
mercado, se destaca a necessidade de substituição do petróleo e adesão
aos biocombustíveis. A importância desse mercado pode ser observada no
crescimento da demanda de combustíveis alternativos e renováveis no
Brasil e no mundo, bem como na consolidação da produção e exportação do
açúcar brasileiro.
Diante disso, pela elevação das contas
de importação provenientes do petróleo e com o objetivo de baixar sua
demanda, o governo brasileiro encontrou no etanol a alternativa de
crescimento com um combustível renovável e produzido inteiramente no
país. A partir daí, o governo incentivou a produção de etanol, iniciada
com a implantação do Proálcool, em 1975. No Gráfico 1, é descrita a
evolução e crescimento da produção de etanol desde a implantação do
Proálcool.
Com base no Gráfico 1, é importante
destacar duas fases de grande crescimento da produção do etanol. A
primeira fase é compreendida entre 1980 e 1986, quando o governo
determinou a redução do Imposto sobre o Produto Industrializado (IPI) e
do IPVA (na época, descrito como Taxa Rodoviária Única) para veículos
movidos somente a etanol, e ainda fixou em 20% a taxa de mistura de
etanol na gasolina.
A segunda fase, iniciada em 2003, é
destacada pelo lançamento no Brasil do veículo bicombustível
(flex-fuel). Aliado a esse fator, ocorreu a determinação do Protocolo de
Kyoto, em 1997, cujo objetivo é a redução de emissão de poluentes em 5%
e incentivo ao uso de fontes renováveis como o etanol. Esses fatores
resultaram no aumento da produção do etanol, cujo crescimento foi da
ordem de 120,7%, entre as safras 2002/2003 e 2017/2018.
Os principais estados produtores de
etanol no Brasil, por região, são os seguintes: São Paulo (Sudeste),
Goiás (Centro-Oeste), Paraná (Sul) e Paraíba(Norte e Nordeste) que,
juntos, são responsáveis por cerca de 70% da produção nacional do
etanol. Dentre esses, destacam-se os estados de São Paulo, que produz
47,4% da produção nacional, e Goiás, que passou a ocupar o segundo lugar
no ranking em produção de etanol no país, com 16,5% do total de etanol
produzido no Brasil (UNICA, 2018). A Tabela 1 apresenta dados sobre o
volume de produção de etanol dos principais estados produtores no
Brasil, entre as safras 2009/2010 e 2014/2015.
Gráfico 1: Produção de etanol em mil metros cúbicos, entre 1980 e 2018.
Fonte: Gráfico feito a partir de dados da UNICA (2018).
Fonte: Gráfico feito a partir de dados da UNICA (2018).
Tabela 1 – Produção de Etanol em Estados e regiões ( em mil m3)
Segundo a Agência Nacional de Petróleo
(ANP), grande parte da produção é destinada ao consumo interno. O
Gráfico 2 descreve as vendas do etanol de 2000 a 2017, ressaltando três
períodos acentuados de aumento da demanda interna.
Quanto ao mercado do etanol no Brasil, o
período compreendido entre 2000 e 2003 foi marcado, principalmente, por
dois aspectos: o primeiro é a baixa venda de veículos movidos a etanol,
especialmente, nos anos de 2000 e 2001, quando essa foi de apenas
10.292 e 18.335 veículos, respectivamente; e o segundo refere-se ao
aumento do preço do etanol, principalmente, entre julho de 2001 e março
de 2003, em que houve a elevação de 57% no preço. A esse aspecto
somam-se a estabilização do preço da gasolina no Brasil, cuja média foi
de R$1,87, e a variação média mensal de aproximadamente 1% no período
(ANFAVEA, 2016; ANP, 2016).
Já entre 2004 e 2009, percebem-se o
crescimento da demanda e o aumento das vendas do etanol no mercado
interno, em boa parte, devido à entrada dos veículos bicombustíveis no
mercado e aos preços do etanol, que estavam sendo mais vantajosos que os
preços da gasolina na maioria das regiões do país. Em outro patamar,
entre 2010 e 2012, a produção interna foi inferior à demanda,
influenciada pelas safras de baixa produção, o que levou à redução da
competitividade do etanol frente à gasolina.
É importante ressaltar a baixa de
consumo de etanol hidratado após 2015, ocasionado principalmente pelo
período de recessão econômica que o país está passando, em que houve
queda nas vendas de veículos e principalmente pelo aumento no desemprego
em geral.
Gráfico 2: Venda de etanol hidratado no período (2000-2017)
Fonte: Gráfico feito a partir de dados da ANP (2017)
A alta demanda interna, aliada a fatores
naturais que afetaram o país na safra de 2011/2012, como as secas
prolongadas em diversas áreas do país, chuvas que prejudicaram a
colheita da cana e a baixa eficiência de produção, levou o país a
importar, em 2011, mais de 1,50 bilhões de litros de etanol, o que
representa cerca de 5% da produção nacional no período de 2010/2011, que
foi de 22,6 bilhões de litros. A importação se deu, principalmente, dos
Estados Unidos, maior produtor de etanol do mundo, onde a extração do
etanol é feita principalmente do milho.
Os Estados Unidos são os principais
importadores e exportadores do etanol brasileiro, fato que se credita à
extinção, em 2011, da taxa cobrada de U$$ 0,54, por galão de etanol
adquirido do Brasil. Após esse fato, a demanda para exportação do etanol
aumentou em 184% de 2011 para 2012.
Além disso, sugere-se ainda que outros
fatores possam ter contribuído para a elevação do preço do etanol, como
o preço do açúcar comercializado no mercado interno e externo
(exportação) como um dos principais fatores influenciadores da variação
dos valores.
A Tabela 2 mostra a cotação média anual
do preço do etanol calculada com base no preço médio diário por região
no Brasil. Pode-se notar que o aumento do preço do etanol, na média
brasileira, entre 2006 a 2017, foi em torno de 64%.
Os preços do etanol mostraram variações
significativas durante o período. Na Tabela 2, destaca-se a fase
compreendida entre 2007 e 2009, em que os preços tiveram pouca variação.
A volatilidade dos preços do etanol, teoricamente, é influenciada por
diversos fatores, tais como a ascendência do consumo dos carros
bicombustíveis, fatores de interferência politica na economia,
crescimento generalizado do setor sucroalcooleiro, oferta e demanda
local, qualidade, clima, pragas, solo, doenças e logística que,
hipoteticamente, causam altos riscos e afetam a precificação de venda no
mercado físico.
O ultimo Plano Decenal de Energia (PDE),
que é lançado anualmente pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE),
estimou que a área de colheita da cana passará de 8,73 milhões de
hectares em 2017, para 9,9 milhões de hectares em 2027. Assim sendo, a
consequência disso será o aumento da produtividade, estima-se que a
projeção de cana colhida cresça a uma taxa de 2,8% a.a., alcançando 837
milhões de toneladas em 2027.
Em relação à produção de etanol, sua
taxa de crescimento será de 4,3% a.a., alcançando 45 bilhões de litros
em 2027, sendo a estimativa para o etanol hidratado de 6,8% a.a.,
enquanto que o anidro (nacional e importado) se mantém no mesmo patamar
de 2017 (13 bilhões de litros).
*Artigo adaptado e atualizado com
base na pesquisa feita pelos autores Frederico Victor Franco, Odilon
José de Oliveira Neto e Waltuir Batista Machado, publicada na Revista
Econômica do Nordeste em 2017.
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