O ciclo benéfico da proteção ambiental
Alessandra Fajardo
Reduzir
os índices de fome no mundo é a temática da FAO – divisão de
Alimentação e Agricultura da Organização das Nações Unidas – para o Dia
Mundial da Alimentação, em 2018, e para sustentar esta discussão são
levantadas diversas bandeiras, entre elas, o uso responsável das fontes,
como terra e água. Todos sabemos da demanda crescente por alimentos no
mundo e que em 2100 teremos uma população estimada em onze bilhões de
pessoas, sendo o Brasil um dos poucos países com condições de subsidiar
essa demanda, ao mesmo tempo em que almeja produzir mais com menos e de
forma ambientalmente sustentável.
No
próprio documento que a ONU publicou sobre o Dia Mundial da
Alimentação, baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, há um
pedido de contribuição do setor agrícola, para que sejam adotados
métodos sustentáveis ??para aumentar a produtividade e a renda. Temos
terra, água e clima que nos ajudam a produzir o suficiente para
alimentar a população brasileira, e ainda ser o terceiro maior
exportador de commodities agrícolas, segundo a Organização Mundial do
Comércio (OMC), ficando atrás apenas de Europa e EUA. A produção mundial
de alimentos precisa crescer 70%, os cereais, que são muitas vezes a
base da alimentação de diversos países, devem aumentar para três bilhões
de toneladas por ano, ante os 2,1 bilhões produzidos hoje, segundo a
FAO.
Diante
do desafio da segurança alimentar, que resvala em algumas barreiras
dentro de uma propriedade rural, os cuidados com água e solo se
destacam. Inclusive, estes critérios já foram mencionados pelo
representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, como um dos pilares dos
desafios da agricultura brasileira. É na terra e na água que tudo começa
e termina ao longo de uma safra, eles são complementares, indiscutíveis
protagonistas da produção de alimentos. São elementos naturais de uma
indústria a céu aberto que permite ao homem fazer agricultura desde o
período pré-histórico.
Cuidar
da sustentabilidade desses dois elementos é primordial para que haja
agricultura, principalmente no Cerrado, onde o agricultor encontra
terras com déficit nutricional. Uma das soluções disponíveis para o
agricultor é a prática do plantio direto na palha, em que ela fica no
solo contribuindo com matéria orgânica e as raízes que permaneceram
evitam sua compactação, contribuindo para a absorção de água da chuva,
fato que evita a erosão. O processo também contribui para a não
disseminação de plantas daninhas.
O
plantio direto aliado à rotação de cultivos é uma das práticas mais bem
desenvolvidas para que o agricultor tenha controle eficiente de pragas e
plantas indesejadas, assim como também melhora as condições químicas,
físicas e biológicas de terras agricultáveis. Rotacionar cultivos quebra
o ciclo de pragas que se desenvolvem em determinadas culturas, podendo
até erradicá-las. Por exemplo, na fazenda Nossa Senhora Aparecida,
localizada em Água Fria de Goiás (GO), cuidados com o solo e com a água
são praticados desde 1995, quando os proprietários se instalaram na
região. Hoje, a propriedade faz parte do projeto FowardFarming,
iniciativa liderada pela Bayer, que promove a sustentabilidade em
propriedades agrícolas em todo o mundo.
Com
pelo menos cinco reservatórios que guardam água da chuva e uma nascente
que fica dentro da fazenda, a preocupação com o uso racional da água se
estende pelos 2.700 hectares da área da família Fiorese, que consegue
fazer a irrigação de 30% da área plantada e pode iniciar o plantio mais
tranquilamente, independente das condições climáticas. Também há bacias
de captação de água ao longo das estradas que cortam a propriedade,
assim a construção consegue evitar erosões e essa água retorna para o
lençol freático.
Instituições
como a Apex-Brasil, NAPC – Núcleo de Avaliações de Políticas Climáticas
da PUC-Rio e a Sociedade Rural Brasileira realizaram estudos indicando
que o Brasil é um dos países que possuem as regras mais rígidas de
proteção de Áreas de Preservação Permanente (APP). Dados do CAR
(Cadastro Ambiental Rural) apontam que áreas dedicadas à preservação de
vegetação nativa pelos agricultores são maiores que a superfície de
qualquer país da União Europeia ou mesmo América Latina, com exceção da
Argentina.
Somos
um país genuinamente agrícola, nossa história se funde com a evolução
da agricultura brasileira. Aprendemos a plantar cana-de-açúcar, passamos
pela política do café com leite e até hoje o agronegócio é um dos
pilares da balança comercial do País. O Brasil é líder em alguns
segmentos, como café e suco de laranja, gigante produtor de soja, milho,
algodão, carne bovina e cana-de-açúcar e autossuficiente com a maioria
das culturas básicas de consumo interno.
Praticar
a sustentabilidade verde é um dever, está na lei, mas o agricultor que
vive da terra e é dependente da “indústria a céu aberto” não é
sustentável apenas por obrigação, mas o faz por ter a certeza de que a
terra devolve o cuidado que é semeado. Plantamos e colhemos mais de uma
safra de vários alimentos ao longo do ano, e à medida em que todos
cuidarem da nossa terra e da nossa água teremos ainda mais acréscimo na
produtividade e com responsabilidade, assim como pede a Organização das
Nações das Unidas.
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