Artigo: Ciência, o adubo da agricultura brasileira
Alimentar
uma população mundial crescente — estimada em 10 bilhões de pessoas em
2050; produzir alimentos, fibra e bioenergia de forma sustentável,
preservando e protegendo o meio ambiente; transformar a realidade de um
país, que em pouco mais de quatro décadas saiu da posição de importador
para a de celeiro mundial de alimentos. O Brasil alcançou essa condição
num curto espaço de tempo. O segredo desta extraordinária mudança de
paradigma tem nome e sobrenome: pesquisa, desenvolvimento e inovação
agropecuária.
Na década de 1970 do século passado, o Brasil era um conhecido produtor de café, açúcar e cacau, as chamadas commodities da época. Todavia, ainda importava grande parte do que consumia: arroz, feijão, carne, leite, milho, trigo e outros cereais. A produção e a produtividade de nossas lavouras eram modestas. Havia pouco conhecimento sobre nossos biomas. A pobreza rural era uma triste realidade. O país estava imerso na insegurança alimentar. Com dimensões continentais e localizado no cinturão tropical do globo, região com solos pobres e ácidos, com temperatura e umidade favoráveis ao desenvolvimento de pragas e doenças, o Brasil não contava com um modelo de produção agropecuária a copiar. Era imperativo que desenvolvesse seu próprio modelo de agricultura tropical. Um modelo que, preferencialmente, estivesse baseado em ciência.
Foi assim que, em 1973, o governo federal criou a Embrapa. A instituição nasceu com a missão de gerar, adaptar e transferir conhecimentos para o desenvolvimento da agropecuária brasileira. Logo no início, foram enviados para treinamento no exterior mais de 1.000 profissionais das mais diferentes áreas das ciências agrárias. Centros de pesquisa foram instituídos em várias regiões do país.
Um consórcio público de pesquisa agropecuária, constituído pela Embrapa, universidades, organizações estaduais de pesquisa e a extensão rural, abriu caminhos para um setor privado ágil e pujante. E transformou a realidade de várias regiões brasileiras. A pesquisa pública concentrou-se então em eliminar as limitações ao desenvolvimento da produção agropecuária no Brasil. Três pilares estão na base desse processo: a tropicalização de cultivos e animais, o desenvolvimento de uma plataforma de produção sustentável e a transformação de solos ácidos e pobres em terra fértil.
A tecnologia agropecuária mudou a paisagem rural brasileira. Em pouco mais de 40 anos, aumentamos a produção de grãos em mais de cinco vezes com elevação de apenas 60% na área plantada. Incrementamos a produção de milho e trigo em mais de 240%, enquanto a produção de arroz cresceu 300%. A bovinocultura de corte aumentou seu plantel em duas vezes, enquanto a área com pastagens reduziu-se ligeiramente. A produção de leite saiu de pouco mais de 4 bilhões para mais de 35 bilhões de litros. A produtividade do café aumentou três vezes em 25 anos. Somando-se a produção de grãos, carne (bovina, suína e de frango), leite, frutas e hortaliças, o Brasil alimenta, anualmente, 1,4 bilhão de pessoas, ou sete vezes o tamanho de sua população. A pesquisa transformou o Cerrado. A tropicalização de cultivos, como a soja, o milho e o trigo, e a de animais para bovinocultura de corte e leite, fez do Cerrado — uma área até então inóspita — o celeiro brasileiro da produção de alimentos, fibras e energia do Brasil.
O país transformou-se numa verdadeira potência agrícola. E essa mudança de paradigma foi feita de maneira sustentável. Nenhum outro país do mundo produz alimentos e preserva e protege o meio ambiente como o Brasil. Usamos apenas 7,8% do território para toda a safra de grãos. A Alemanha usa 56,9% do seu território, enquanto o Reino Unido ocupa 63,9%, e a Dinamarca nada menos que 76,8%.
Por tudo isso, não podemos aceitar que desinformados ou mal-intencionados apontem o dedo para o Brasil nos acusando de predadores do meio ambiente. É preciso esclarecer que, com ciência, tecnologia e inovação, sabemos produzir de forma sustentável.
O Brasil preserva ou protege 66,3% de seu território na forma de matas e florestas nativas. Tal área equivale a toda a superfície dos países da União Europeia. Produtores rurais brasileiros preservam 25% do território brasileiro dentro dos imóveis rurais, na forma de reservas legais ou áreas de proteção permanente, o que representa um fantástico serviço ecossistêmico numa área aproximada de 218 milhões de hectares. E fazem isso sem receber um centavo sequer. O valor financeiro imobilizado dentro das propriedades rurais brasileiras é estimado em R$ 3,1 trilhões.
As pastagens e as florestas brasileiras, nativas e plantadas, ocupam outros 23%. Em síntese, usamos apenas 30% do Brasil para produzir alimentos, fibras e energia para alimentar 20% da população do globo. Os EUA usam quase 75% do seu território. Preservam apenas 19,9%, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
Até 2030, estima-se que a Ásia concentrará 50% da classe média mundial. A região demandará alimentos em volumes crescentes, e o Brasil terá significativo protagonismo no atendimento dessa demanda. Dados do USDA indicam que a produção de alimentos no Brasil crescerá 69% até 2027, a maior taxa de crescimento verificada entre os maiores produtores e consumidores de alimentos no mundo. O mesmo estudo indica que a produção na Índia aumentará 48%, na Argentina crescerá 44%, na Rússia, 34%; na Austrália, 22%, nos EUA, 12%; na Ásia, apenas 11%.
O crescimento da produção brasileira se dará, sobretudo, pelo aumento da produtividade com uso intensivo de tecnologia. Ocorrerá também pela incorporação de áreas de pastagens degradadas, estimadas em 50 milhões de hectares, que vêm sendo recuperadas ao longo das últimas décadas por meio de processos de intensificação sustentável como os sistemas de integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF). Acredita-se que os sistemas integrados, que saíram de 4 milhões de hectares há 6 anos e hoje ocupam quase 14 milhões de hectares, configurem-se na segunda revolução agropecuária que se materializa em várias regiões do território brasileiro.
A demanda por alimentos aumentará significativamente nas próximas décadas. O crescimento populacional e a concentração demográfica em centros urbanos no horizonte de 2050 impõem grandes desafios para a sociedade moderna. Produzir de forma sustentável, com preservação e respeito ao meio estará no centro da agenda de desenvolvimento global. Poucos países serão capazes de produzir com competitividade e sustentabilidade. A pesquisa, o desenvolvimento e a inovação agropecuária continuarão a fazer do Brasil um dos pilares da segurança alimentar e da paz em todo o mundo.
Na década de 1970 do século passado, o Brasil era um conhecido produtor de café, açúcar e cacau, as chamadas commodities da época. Todavia, ainda importava grande parte do que consumia: arroz, feijão, carne, leite, milho, trigo e outros cereais. A produção e a produtividade de nossas lavouras eram modestas. Havia pouco conhecimento sobre nossos biomas. A pobreza rural era uma triste realidade. O país estava imerso na insegurança alimentar. Com dimensões continentais e localizado no cinturão tropical do globo, região com solos pobres e ácidos, com temperatura e umidade favoráveis ao desenvolvimento de pragas e doenças, o Brasil não contava com um modelo de produção agropecuária a copiar. Era imperativo que desenvolvesse seu próprio modelo de agricultura tropical. Um modelo que, preferencialmente, estivesse baseado em ciência.
Foi assim que, em 1973, o governo federal criou a Embrapa. A instituição nasceu com a missão de gerar, adaptar e transferir conhecimentos para o desenvolvimento da agropecuária brasileira. Logo no início, foram enviados para treinamento no exterior mais de 1.000 profissionais das mais diferentes áreas das ciências agrárias. Centros de pesquisa foram instituídos em várias regiões do país.
Um consórcio público de pesquisa agropecuária, constituído pela Embrapa, universidades, organizações estaduais de pesquisa e a extensão rural, abriu caminhos para um setor privado ágil e pujante. E transformou a realidade de várias regiões brasileiras. A pesquisa pública concentrou-se então em eliminar as limitações ao desenvolvimento da produção agropecuária no Brasil. Três pilares estão na base desse processo: a tropicalização de cultivos e animais, o desenvolvimento de uma plataforma de produção sustentável e a transformação de solos ácidos e pobres em terra fértil.
A tecnologia agropecuária mudou a paisagem rural brasileira. Em pouco mais de 40 anos, aumentamos a produção de grãos em mais de cinco vezes com elevação de apenas 60% na área plantada. Incrementamos a produção de milho e trigo em mais de 240%, enquanto a produção de arroz cresceu 300%. A bovinocultura de corte aumentou seu plantel em duas vezes, enquanto a área com pastagens reduziu-se ligeiramente. A produção de leite saiu de pouco mais de 4 bilhões para mais de 35 bilhões de litros. A produtividade do café aumentou três vezes em 25 anos. Somando-se a produção de grãos, carne (bovina, suína e de frango), leite, frutas e hortaliças, o Brasil alimenta, anualmente, 1,4 bilhão de pessoas, ou sete vezes o tamanho de sua população. A pesquisa transformou o Cerrado. A tropicalização de cultivos, como a soja, o milho e o trigo, e a de animais para bovinocultura de corte e leite, fez do Cerrado — uma área até então inóspita — o celeiro brasileiro da produção de alimentos, fibras e energia do Brasil.
O país transformou-se numa verdadeira potência agrícola. E essa mudança de paradigma foi feita de maneira sustentável. Nenhum outro país do mundo produz alimentos e preserva e protege o meio ambiente como o Brasil. Usamos apenas 7,8% do território para toda a safra de grãos. A Alemanha usa 56,9% do seu território, enquanto o Reino Unido ocupa 63,9%, e a Dinamarca nada menos que 76,8%.
Por tudo isso, não podemos aceitar que desinformados ou mal-intencionados apontem o dedo para o Brasil nos acusando de predadores do meio ambiente. É preciso esclarecer que, com ciência, tecnologia e inovação, sabemos produzir de forma sustentável.
O Brasil preserva ou protege 66,3% de seu território na forma de matas e florestas nativas. Tal área equivale a toda a superfície dos países da União Europeia. Produtores rurais brasileiros preservam 25% do território brasileiro dentro dos imóveis rurais, na forma de reservas legais ou áreas de proteção permanente, o que representa um fantástico serviço ecossistêmico numa área aproximada de 218 milhões de hectares. E fazem isso sem receber um centavo sequer. O valor financeiro imobilizado dentro das propriedades rurais brasileiras é estimado em R$ 3,1 trilhões.
As pastagens e as florestas brasileiras, nativas e plantadas, ocupam outros 23%. Em síntese, usamos apenas 30% do Brasil para produzir alimentos, fibras e energia para alimentar 20% da população do globo. Os EUA usam quase 75% do seu território. Preservam apenas 19,9%, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
Até 2030, estima-se que a Ásia concentrará 50% da classe média mundial. A região demandará alimentos em volumes crescentes, e o Brasil terá significativo protagonismo no atendimento dessa demanda. Dados do USDA indicam que a produção de alimentos no Brasil crescerá 69% até 2027, a maior taxa de crescimento verificada entre os maiores produtores e consumidores de alimentos no mundo. O mesmo estudo indica que a produção na Índia aumentará 48%, na Argentina crescerá 44%, na Rússia, 34%; na Austrália, 22%, nos EUA, 12%; na Ásia, apenas 11%.
O crescimento da produção brasileira se dará, sobretudo, pelo aumento da produtividade com uso intensivo de tecnologia. Ocorrerá também pela incorporação de áreas de pastagens degradadas, estimadas em 50 milhões de hectares, que vêm sendo recuperadas ao longo das últimas décadas por meio de processos de intensificação sustentável como os sistemas de integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF). Acredita-se que os sistemas integrados, que saíram de 4 milhões de hectares há 6 anos e hoje ocupam quase 14 milhões de hectares, configurem-se na segunda revolução agropecuária que se materializa em várias regiões do território brasileiro.
A demanda por alimentos aumentará significativamente nas próximas décadas. O crescimento populacional e a concentração demográfica em centros urbanos no horizonte de 2050 impõem grandes desafios para a sociedade moderna. Produzir de forma sustentável, com preservação e respeito ao meio estará no centro da agenda de desenvolvimento global. Poucos países serão capazes de produzir com competitividade e sustentabilidade. A pesquisa, o desenvolvimento e a inovação agropecuária continuarão a fazer do Brasil um dos pilares da segurança alimentar e da paz em todo o mundo.
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