Comunidade quilombola Aroeira é reconhecida pelo Incra no Rio Grande do Norte
Damião Pereira, um dos moradores da comunidade
Crédito: Incra/RN
Portaria publicada pelo Incra reconheceu
e declarou como território quilombola 530,8 hectares da Comunidade
Aroeira, no município norte-rio-grandense de Pedro Avelino. Reivindicada
por 37 famílias, a área está localizado na região Central Potiguar, a
cerca de 160 quilômetros de Natal. A Portaria nº 482, datada de 2 de
abril deste ano, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) do
último dia 23. (Clique aqui para acessá-la).
Em 2006, a comunidade foi incluída no
cadastro da Fundação Cultural Palmares (FCP). A certificação emitida
pela FCP reconhecendo que a população e a área ocupada têm relação com
antigos quilombos permitiu iniciar o processo de regularização fundiária
do território junto ao Incra.
Uma das primeiras e mais importantes
etapas do processo, a elaboração do Relatório Técnico de Identificação e
Delimitação (RTID) da comunidade, foi realizada e o documento publicado
no DOU e no Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte (DOE) nos
dias 10 e 11 de fevereiro de 2015.
Produzido por uma equipe
multidisciplinar do Incra, o RTID identifica e delimita o território
quilombola reivindicado pelos remanescentes das comunidades dos
quilombos. Nele são abordadas informações cartográficas, fundiárias,
agronômicas, ecológicas, geográficas, socioeconômicas, históricas e
antropológicas, obtidas em campo e junto a instituições públicas e
privadas,
Após a publicação do RTID no DOU e no
DOE, o Incra contatou outros órgãos públicos, como o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Ibama, a Secretaria
do Patrimônio da União, a Secretaria Executiva do Conselho de Defesa
Nacional, a Fundação Cultural Palmares e a Funai, a fim de verificar a
possibilidade de regularizar a área.
De acordo com informações do Relatório
Antropológico – uma das peças do RTID – a comunidade quilombola Aroeira
teve origem no século XIX, quando algumas famílias deram início à
ocupação de aproximadamente 530 hectares. Foram identificados fortes
laços de parentesco e manifestações culturais transmitidas entre
gerações.
O superintendente do Incra/RN, José
Leonardo Guedes Bezerra, ressalta que a portaria oficializa perante
o governo e a sociedade brasileira o território quilombola de Aroeira,
encerrando as fases de contestações e possíveis alterações. “Este ato
garante mais segurança jurídica para os quilombolas, no que tange à
demonstração de seu domínio sobre aquelas terras e também para
proposição e adesão a projetos de desenvolvimento. Além disto, é mais um
ato que ajuda a tirar estas comunidades da invisibilidade social e
estatal”, afirmou.
Próximos passos
Os próximos passos no processo de
regularização do território da comunidade, de acordo com o antropólogo
André Garcia Braga, do Serviço Quilombola do Incra/RN, são a publicação
do decreto de desapropriação da área pela Presidência da República e a
posterior avaliação pelo Incra, para que seja definido o valor da
indenização devida ao proprietário do imóvel onde estão inseridas as
terras reivindicadas pelas famílias. Após a desapropriação, o Incra será
imitido na posse do território delimitado e vai ser concedido um título
coletivo e inalienável de propriedade à comunidade, em nome da
associação dos moradores.
Com a regularização do território, serão
implementadas ações visando à autonomia das famílias, como a emissão de
Declarações de Aptidão ao Pronaf (DAPs) e o Cadastro Ambiental Rural
(CAR).
Comunidades
As comunidades quilombolas são grupos
étnicos predominantemente constituídos pela população negra rural ou
urbana, que se autodefinem a partir das relações com a terra, o
parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas
culturais.
No Rio Grande do Norte, existem cerca de
60 comunidades remanescentes de quilombos, de acordo com estudo da
Fundação Cultural Palmares. Destas, 22 se reconheceram como tal.
Atualmente, 20 comunidades encontram-se com processo de reconhecimento,
demarcação e regularização de áreas quilombolas em tramitação no
Incra/RN.
Para terem seus territórios
regularizados, as comunidades devem encaminhar uma declaração se
identificando como quilombolas à Fundação Cultural Palmares – que
expedirá uma Certidão de Autorreconhecimento – e encaminhar ao Incra uma
solicitação de abertura do processo de regularização.
Além de Acauã, Jatobá e Boa Vista dos
Negros, outras seis comunidades quilombolas estão com os processos de
regularização de seus territórios em estágios avançados na regional da
autarquia: Capoeiras (em Macaíba), Aroeiras (Pedro Avelino), Nova
Descoberta (Ielmo Marinho), Pavilhão e Sítio Grossos (Bom Jesus) e
Macambira (Lagoa Nova).
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