segunda-feira, 4 de junho de 2018

Assentado paraibano produz alimentos de qualidade em antigo canavial


Ex-trabalhador de canavial, Severino dos Santos comemora mudança de vida depois se tornar assentado


Até meados da década de 1990, a região da Zona da Mata paraibana era conhecida principalmente pelos canaviais que abasteciam antigos engenhos de cana-de-açúcar, atualmente em grande maioria desativados. A monocultura vem perdendo espaço para a diversidade da agricultura familiar em assentamentos como o Engenho Santana, em Cruz do Espírito Santo, na Região Metropolitana de João Pessoa.
O agricultor assentado Severino Soares dos Santos nasceu nas terras do engenho e ainda lembra, aos 63 anos, do tempo em que trabalhava de segunda a sábado no corte da cana. “A gente não tinha hora de largar, não. Quem mandava eram os latifundiários e a gente era os escravos dele”, contou.
A vida de Santos e de outras 54 famílias – a maior parte posseiros do imóvel rural onde funcionava o Engenho Santana – mudou completamente quando, em 1995, o Incra transformou os cerca de 370 hectares em um assentamento.
Surgia a primeira área de reforma agrária do município de Cruz do Espírito Santo, um dos que possuem o maior número de assentamentos na Paraíba – abriga dez destas comunidades, onde vivem 874 famílias de agricultores, em 6.652 hectares. O município está localizado na microrregião da “várzea açucareira do Rio Paraíba”, durante séculos a mais rica do estado por ser a maior produtora de açúcar, e famosa por ter inspirado obras de célebres escritores paraibanos, como José Américo de Almeida, José Lins do Rego e Augusto dos Anjos.
Produção diversificada
A paisagem de antes, coberta de cana-de-açúcar, em nada lembra a diversidade de culturas na parcela de quase sete hectares onde hoje vive a família de Santos. Há de tudo um pouco: macaxeira, mandioca, inhame, batata-doce, milho, feijão, fava, além de frutas variadas, como coco, abacaxi, acerola, manga, banana e tangerina. O feijão e a batata-doce são irrigados por gravidade, sem necessidade de fonte de energia no funcionamento.
Tudo o que a família produz é comercializado por meio de atravessadores e no Mercado Público de Santa Rita, município vizinho com o trajeto mais fácil até o assentamento. A produção de macaxeira e batata-doce foi, durante algum tempo, fornecida ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“A vida mudou para muito melhor. A gente não tinha terra, vivia nas terras dos outros. Agora somos proprietários. A gente planta o que quer, se alimenta bem e não precisa deixar a terra pra morar na cidade”, disse o agricultor, que começou a trabalhar no corte da cana-de-açúcar aos 12 anos e nunca deixou a zona rural. “Na cidade a gente precisa de dinheiro para comprar qualquer coisa. Aqui a gente tem de tudo”.
Santos garantiu não se sentir atraído por nada na zona urbana do município. “Na cidade é muito quente por causa do calçamento e das casas, todas muito juntas”, disse.
A dedicação de Santos à lavoura é compartilhada com esposa, Maria José Batista, de 64 anos, cinco filhas e dois netos que vivem com o casal. “Nenhuma filha minha quer sair daqui porque quem nasce aqui dentro sabe que lá fora não é melhor”, afirmou Santos.
O agricultor contou ainda que, quando era jovem, as famílias possuíam uma pequena área para plantar. Mas, segundo ele, aquelas sem muitos filhos que ajudassem a cultivar a terra iam perdendo o espaço para o engenho. “Teve família que ficou só com o quintal”, revelou.
Ele considera tudo mais fácil com a transformação da antiga propriedade do engenho em um assentamento do Incra. “Hoje é bom demais, meus netos são criados em berço de ouro. E só não estuda quem não quer. Eu sei ler um pouco, desenrolo qualquer coisa, mas escrever eu sei muito pouco”, disse, acrescentando que um ônibus escolar faz o transporte das crianças à escola.
Até a saúde da família Santos melhorou depois de se tornarem beneficiários do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA). A cada 15 dias, um médico do Programa Saúde da Família (PSF) atende no posto de saúde de Engenho Santana.

Assessoria de Comunicação Social do Incra/PB
NOTA DO BLOG:
O desenvolvimento da Agricultura Familiar e consequentemente uma vida digna ao homem do campo, vem acompanhado das políticas públicas. A Paraíba sempre na frente. Parabéns.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ajude o nosso Blog.