Projeto de dessalinizadores solares em assentamentos da Paraíba ganha prêmio nacional
Cerca de 40 famílias de agricultores
dos assentamentos Belo Monte, no município de Cubati, e Olho D’Água, em
São Vicente do Seridó, na região do Semiárido paraibano, foram
beneficiadas com a construção de 28 dessalinizadores solares com
capacidade para produzirem juntos aproximadamente 450 litros de água
potável por dia a baixo custo, sem uso de eletricidade, de elementos
filtrantes e de produtos químicos. A tecnologia social implementada nos
dois assentamentos da reforma agrária foi a ganhadora do Prêmio Fundação
Banco do Brasil, na categoria “Água e Meio Ambiente”, entregue no dia
23 de novembro, em Brasília (DF).
O projeto, fruto de uma parceria entre
a Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio às Organizações de
Autopromoção (Coonap), sediada em Campina Grande (PB), e o Núcleo de
Extensão Rural Agroecológica (Nera) da Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB), aproveita o potencial de energia solar disponível na região –
uma das mais secas do estado – para ofertar aos agricultores assentados
água de boa qualidade a baixo custo e de forma sustentável.
A parceria com a UEPB também garante
assistência técnica e capacitação para as famílias, que aprendem a usar a
tecnologia e a disseminar o conhecimento em outras comunidades rurais.
A experiência no Assentamento Olho
D’Água foi uma das selecionadas, na Categoria Sistemas Sustentáveis de
Produção de Base Agroecológica, para a edição 2015 do Caderno de Boas
Práticas de Ater - Assistência Técnica e Extensão Rural, do agora
extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
“Água gostosa”
Há cerca de dois anos, a família do
agricultor José Eriberto de Oliveira, 48 anos, mais conhecido como Beto,
e da agente de saúde Áurea Lúcia Lopes de Oliveira, 47 anos, que vive
no Assentamento Olho D’Água, em São Vicente do Seridó, a cerca de 220
quilômetros de João Pessoa, passou a ter água de qualidade em casa. Tudo
mudou com a instalação de cinco “casinhas” de dessalinizadores solares.
Antes, o casal e os três filhos usavam a água da cisterna do
assentamento, abastecida pela Operação Carro Pipa do Exército, para
cozinhar. A água de beber era comprada, a cada dois dias, na sede
municipal, a cerca de 1,5 quilômetro do assentamento por R$ 2,50 o
garrafão de 20 litros. “Tomava tempo, atrapalhava nosso dia a dia e
ainda saía caro”, disse Beto.
O que ele aprendeu com a construção
dos dessalinizadores do seu lote e com a oficina de capacitação
realizada no assentamento ele ensina em outras comunidades rurais. Até
agora já foram 70 “casinhas” de dessalinizadores construídas em
comunidades vizinhas que contaram com o trabalho de Beto.
“A água que a gente comprava era muito
ruim e ninguém sabia de onde vinha. E, de vez em quando a gente tinha
dor de barriga, diarreia. E a gente sabia que era da água. Agora isso
acabou”, contou Beto, acrescentando que a água supre as necessidades de
sua família e de mais oito pessoas da família de seu cunhado.
Para abastecer os cinco
dessalinizadores que possui em casa, o agricultor usa a água salobra –
que apresenta mais sais dissolvidos (cloretos) que a água doce e menos
que a água do mar) – de um poço localizado a cerca de 70 metros da casa
da família. “Dependendo do sol, são dois ou três dias para tirarmos o
sal da água”, explicou Beto.
Sem impacto ambiental
O coordenador do projeto e presidente
da Coonap, Jonas de Araújo Neto, explicou que, além de retirar os sais
da água, o método também elimina os microrganismos patógenos,
especialmente as bactérias que causam doenças, como a Escherichia Coli.
“Análises físico-químicas e microbiológicas da água destilada pelo
dessalinizador comprovaram sua qualidade e a ausência de agentes
patogênicos”, disse.
Ele ressaltou ainda que esta
tecnologia de dessalinização não tem impacto ambiental porque não produz
rejeitos salinos nem utiliza energia elétrica ou combustíveis
não-renováveis.
“A tecnologia de dessalinização que
usa a destilação solar para produzir água segura para o consumo humano
tem baixo custo de instalação e manutenção e é de fácil implantação.
Assim, ela é socialmente sustentável e pode ser facilmente transferida a
outras comunidades”, afirmou Jonas de Araújo Neto.
Baixo custo
De acordo com o diretor técnico da
Coonap, o engenheiro agrícola José Diniz das Neves, cada unidade do
dessalinizador solar custa em torno de R$ 1,2 mil, sem contar os gastos
com a mão de obra, que geralmente vem da própria família ou de
voluntários. “Em poucos dias conseguimos construir o dessalinizador. Em
poucas horas fazemos as peças pré-moldadas e, depois que elas secam, o
dessalinizador leva apenas um dia para ser montado”, explicou.
A simplicidade e o baixo custo do
método são os fatores que explicam a grande adesão dos agricultores ao
programa, segundo Francisco Loureiro, professor da UEPB e coordenador da
tecnologia. Os materiais usados na construção dos dessalinizadores
solares são facilmente encontrados em qualquer cidade do interior, como
vidros, canos e lonas.
“Atendemos comunidades em que os
moradores eram obrigados a consumir água de poços artesianos com elevado
nível de contaminação biológica e química (sais) e que traziam
consequentes danos à saúde, ou eram obrigados a caminhar por horas para
ter acesso a água potável”, contou Loureiro.
Funcionamento do dessalinizador
O dessalinizador solar consiste em uma
caixa construída com placas pré-moldadas de concreto, com cobertura de
vidro, que possibilita a passagem da radiação solar. Com o aumento da
temperatura dentro do dessalinizador, a água armazenada numa lona
encerada (“lona de caminhão”) evapora e entra em contato com a
superfície de vidro resfriada e, condensando e escorrendo por calhas,
voltando ao estado líquido, mas agora sem os sais ou contaminantes antes
existentes.
Cada unidade do dessalinizador produz um volume de água potável de cerca de 16 litros/dia, dependendo do clima.
Prêmio Fundação BB
O prêmio teve 18 finalistas nas
categorias nacionais e três na internacional. Entre os 735 inscritos
neste ano, 173 foram certificados e passaram a constar no Banco de
Tecnologias Sociais (BTS), um acervo online gratuito mantido pela
Fundação BB.
Este ano, o concurso teve a cooperação
da Unesco no Brasil e o apoio do Banco de Desenvolvimento da América
Latina (CAF), do Banco Mundial, da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO) e do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD).
As sete iniciativas premiadas
receberam R$ 50 mil cada, destinados à expansão, aperfeiçoamento ou
reaplicação da metodologia, e mais um vídeo com apresentação dos
projetos.
Na ocasião, também foi anunciado um
edital inédito, de R$ 10 milhões, para reaplicação das tecnologias
sociais disponíveis no acervo do Banco de Tecnologias Sociais (BTS), em
parceria da Fundação BB com o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), com lançamento previsto para o início do
próximo ano.
Assessoria de Comunicação Social do Incra/PB
Nota do Blog: A comunidade de Pelo Sinal II, na área rural do Pico do Cabugí, no município de Fernando Pedroza, vai receber um Dessalinizador do governo do estado, em parceria com a Prefeitura Municipal, que vai abastecer todas as residências da Associação.
Mas, esse dessalinizador tem um custo, principalmente de energia elétrica. Quem vai pagar? os associados já comentaram que não tem condições. A solução mais viável seria a energia solar, como retrata a matéria acima, no estado da Paraíba. Cabe a Associação, juntamente com a Edilidade Municipal, procurar meios para instalar essa energia no âmbito dos organismos governamentais, como Governo Cidadão, Fundação Banco do Brasil, etc.
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