Experiência do Brasil com Ouvidoria Agrária é destaque no GT de Acesso à Terra
Para
os agricultores familiares, a terra tem mais de um significado. É dela
que vem o alimento que é posto na mesa nas horas das refeições. É dela
que vem a renda das famílias e a base que sustenta suas casas. Logo,
devido a sua grande importância que os órgãos oficiais de agricultura
familiar de cada país do Mercosul se reuniram com representantes das
organizações da agricultura familiar para consensuar os encaminhamentos
do Grupo Temático (GT) de Acesso à Terra e Reforma Agrária para o
próximo semestre.
De acordo com o
ponto focal do GT no Brasil, Ricardo França, o principal ponto que foi
abordado pelo grupo, foi a temática de conflitos no campo e que
possivelmente será criada uma recomendação ao Grupo de Mercado Comum
(CMG). “A ideia geral é que novas dinâmicas surgiram no meio rural,
ocasionando uma modificação dos conflitos que acontecem no campo. Então
você não deixou de ter os conflitos tradicionais por terra, mas passa
também a ter um novo formato de conflito, como por exemplo, pelo acesso à
água, ou outros recursos naturais e pelo tipo de uso do solo.”
Além
disso, Ricardo adiciona a importância do diálogo sobre a nova fase de
estrangeirização. “Antes, eventualmente você tinha um estrangeiro, ou
uma empresa estrangeira comprando terra local, agora você tem países,
indivíduos e empresas estrangeiras comprando terra para atender uma
necessidade deles no país de origem. Então, eles estão produzindo, por
exemplo, comida, para mandar para fora. O problema é que essa economia
não circula no país. Logo, esse é um grande desafio para a região.”
Outro
ponto importante é a questão da necessidade dos Governos proporcionarem
segurança para os agricultores familiares, por meio de algum
instrumento. No caso do Brasil, tanto a Secretaria Especial de
Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), como o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estão
investindo na titulação. “Dentro do Grupo, tem toda uma discussão se a
titulação definitiva com possibilidade de venda é adequada ou não. Mas
tanto o Brasil, quanto Paraguai, e Uruguai estão investindo muito em
alguma forma de dar o documento da terra para que os agricultores
familiares sintam-se seguros.”
Segundo
Ricardo, no caso do Uruguai e Paraguai em algumas ações de reforma
agrárias esses títulos não passam de pais para filhos. Já no caso do
Brasil isso acontece. “Então têm características diferentes na região,
mas uma primeira coisa que precisa ser feita é a titulação. A outra, e
que chamou muita atenção dos países participantes, é a experiência que o
Brasil tem com a ouvidoria agrária. Essa experiência trabalha na
mediação de conflito, no diálogo com os estados, no diálogo com os
tribunais, no diálogo com as forças policiais e com os próprios
representantes dos agricultores.” O ponto focal do GT no Brasil,
ressalta que foi uma experiência que interessou muito aos outros países
como uma possibilidade de diminuir os conflitos, ou até mesmo, quando o
conflito for acontecer de qualquer maneira, pelo menos diminuir o grau
de violência, os impactos e as mortes.
A
ouvidoria agrária nacional ficava vinculada ao antigo Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), hoje, Sead. Entretanto, optou-se a
vinculá-la à presidência do Incra. Tem como principal missão fazer o
diálogo dos atores envolvidos para diminuir a possibilidade de
conflitos, em especial a violência. É fundamental que o Estado se
mobilize assim que tiver a possibilidade de haver um conflito, a fim de
evitar que se espalhem. Em especial a ouvidoria tem um trabalho junto
com a Justiça, estimulando os estados a criarem varas agrárias
específicas.
Ademais, foi reforçada a
importância do intercâmbio de experiência e a cooperação entre os
países participantes. “Então na medida que a gente conhece as políticas
um do outro há a possibilidade de cooperação. A gente passou muito tempo
sem realizar essa troca, esse intercâmbio mesmo de trazer técnicos,
representantes, e agricultores também. Mas em especial levar técnicos de
um país para outro para discutir e apesar da diferença do idioma, é
relativamente fácil o diálogo, então a gente acredita que desse ano para
o próximo conseguiremos aumentar esse intercâmbio e isso será benéfico
para todos os países.”
Todos esses encaminhamentos foram apresentados à plenária da XXVII Reaf, no último dia 8.
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