Inflação dos alimentos em baixa grande (nos últimos seis meses, de quase zero)
A inflação mais baixa levou o pessoal da finança a ver o mundo em tons de cinza com traços marginais de rosa.
Até observações de praxe
sobre "risco político" parecem aguadas pela confiança de que, por
exemplo, a reforma da Previdência passaria quase inteira no Congresso,
até meados do ano. Não parecem importar as mumunhas do governismo contra
a Lava Jato. A força da coalizão de Michel Temer escoraria o programa
econômico reformista.
A hipótese de tumulto nas ruas nem tem cor. Parece ora invisível.
No final da semana, o
pessoal do mercado fez extensa revisão para baixo das previsões de
inflação, aliás muito erradas faz seis meses. Rebaixou-se também a
previsão para a taxa básica de juro, para algo entre 9,5% e 9% no fim do
ano (hoje em 13%). Cresce a torcida para a redução da meta de inflação
em 2019.
As previsões para o
crescimento do PIB, que na média embicavam de 0,5% para zero ou menos,
talvez venham a ser reavaliadas para aquele 1% que o governo quer
anunciar em março. A taxa de juros real "básica" do mercado cai de modo
relevante faz um mês. Ao lado do dólar comportado, é algum alívio para
as empresas.
Parecem minudências
estatísticas, mas não é bem assim. Muda a perspectiva para o crescimento
do final do ano e, ainda mais, para o 2018 de eleições cruciais.
O "reforço da agenda de
reformas", como diz o jargão medonho, teria colaborado para baixar
inflação e juros. O risco decrescente de o país quebrar de vez teria
contribuído para a valorização do real ("baixa do dólar"), o que ajuda a
conter preços.
O restante da "surpresa
inflacionária positiva" seria decorrente da excepcional safra de
alimentos e, dizem, da "ancoragem das expectativas" de inflação,
cortesia do Banco Central firme e forte.
O efeito político da
inflação mais baixa não deve ser subestimado. O ânimo do povo em relação
a governo e economia costuma mudar com IPCA abaixo de 6% e, ainda mais,
com inflação da comida em baixa grande. Até julho passado, os preços de
alimentos e bebidas subiam no ritmo de 13,6% ao ano; em janeiro, de
6,6%. Nos últimos seis meses, de quase zero.
Em outros tempos, seria
sucesso garantido de público. Neste ambiente, é mais controverso, embora
o clima nas ruas esteja até muito calmo, dado o tamanho do desastre.
Não há manifestações contra
os avanços do governismo contra a Lava Jato. Não há lideranças para
levar os repauperizados para a rua, pois a esquerda está entre morta,
podre e diminuída à irrelevância. A ruína dos Estados pode provocar
tumulto grave, desordenado e imprevisível, logo desarticulado, a
princípio, como em Rio ou Espírito Santo.
Em suma, os fios estão desencapados, mas não se encostam para um curto-circuito.
A confiança no acordão de
elite que sustenta a estabilidade precária de Michel Temer e a
inexistência de um partido popular qualquer parecem sustentar a ideia de
que a "agenda de reformas" deve ser implementada. Melhoras econômicas
marginais podem anestesiar um tico do sofrimento social: agora com
inflação baixa, mais tarde, meados do ano, com o estancamento da redução
do número de empregos.
Pouco se fala do risco-polícia para a turma do Planalto.
Esse é o cenário cinza-rosa.
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