Medicamento com nanotecnologia é aposta da pesquisa para tratar mastite bovina
Um
produto baseado na nanotecnologia é a mais nova aposta da pesquisa
agropecuária para enfrentar a mastite bovina, a inflamação da glândula
mamária que afeta rebanhos leiteiros em todo o mundo. Acredita-se que
uma em cada quatro vacas apresente a mastite pelo menos uma vez ao longo
de sua vida produtiva. Desenvolvida pela Embrapa Gado de Leite (MG) e a
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a tecnologia será oferecida
em edital voltado a interessados na produção e comercialização desse
novo medicamento. O objetivo é buscar parceiros junto à indústria
farmacêutica interessados em levar o produto ao mercado. O edital foi
publicado no site da Embrapa no dia 8 de agosto de 2016. Clique aqui para acessar.
Embora o Brasil não possua números oficiais dos prejuízos causados pelo problema, estima-se que o impacto alcance até 10% do faturamento das propriedades. O pesquisador Guilherme Nunes de Souza avalia que, somente nos Estados Unidos, onde as estatísticas sobre a doença estão mais avançadas, a mastite provoque perdas anuais da ordem de dois bilhões de dólares por ano devido à redução na produção, ao descarte do leite e de animais e aos custos com medicamentos e honorários veterinários.
Embora o Brasil não possua números oficiais dos prejuízos causados pelo problema, estima-se que o impacto alcance até 10% do faturamento das propriedades. O pesquisador Guilherme Nunes de Souza avalia que, somente nos Estados Unidos, onde as estatísticas sobre a doença estão mais avançadas, a mastite provoque perdas anuais da ordem de dois bilhões de dólares por ano devido à redução na produção, ao descarte do leite e de animais e aos custos com medicamentos e honorários veterinários.
Uma
das respostas da pesquisa agropecuária a essas perdas está na
nanotecnologia, ciência que manipula partículas em escala microscópica
(até um bilhão de vezes menor do que o metro) e tem revolucionado a
farmacologia mundial. O pesquisador Humberto de Mello Brandão trabalha
há dez anos no desenvolvimento de nanoestruturas capazes de tornar mais
eficiente a ação dos antibióticos contra a mastite.
Brandão
explica que nem todos os antibióticos conseguem atuar de forma ampla
para combater os agentes que provocam a mastite. Segundo o especialista,
com o tratamento convencional, bactérias como o Staphylococcus aureus,
grande responsável pela doença, costumam ser eliminadas fora das
células fagocitárias (de defesa do organismo), mas continuam vivas no
espaço intracelular. Quando a célula fagocitária morre, a bactéria fica
livre e volta a se proliferar no interior do úbere da vaca, dificultando
a cura dos animais tratados.
Isso explica por que essa inflamação é tão difícil de ser combatida. De acordo com Nunes, a possibilidade de se eliminar o Staphylococcus aureus
durante o período de lactação, via tratamento intramamário, gira em
torno de 30%. Com o tratamento da vaca seca (início do período entre as
lactações) é possível obter êxito de até 80%. "Dificilmente a eliminação
se dá totalmente", afirma o pesquisador.
Numericamente, os resultados clínicos obtidos com a nova formulação, resultaram num incremento de até 15% no combate ao Staphylococcus aureus
em comparação ao medicamento convencional. Brandão ressalta que esses
resultados foram obtidos com a metade da dose do antibiótico. "Em nossas
pesquisas, o número de animais portadores de mastite infecciosa
diminuiu", comemora o pesquisador, que completa: "o medicamento também
demonstrou potencial para prevenir novas infecções".
Como atua a nanoestrutura
A
diferença entre o tratamento convencional e a utilização de
nanoestruturas está basicamente em como o medicamento é carreado no
organismo. Em tese, nada muda em relação ao princípio ativo em si (o
antibiótico), mas no seu transporte até as células. O antibiótico é
encapsulado em uma nanopartícula menor do que a célula. Essa
nanoestrutura possibilita que o medicamento chegue a compartimentos
biológicos que formulações farmacêuticas convencionais não têm acesso
como, por exemplo, o interior das células de defesa da glândula mamária.
A
partir daí, é feita uma liberação controlada e direcionada do
antibiótico diretamente no local onde o agente causador da doença fica
protegido das formulações convencionais. Por ser mais eficiente e
utilizar de forma mais racional os antibióticos, a nanoestrutura
dificulta a seleção de bactérias resistentes, aumentando a vida útil do
fármaco.
O
projeto de pesquisa que deu origem ao produto, que será submetido às
indústrias farmacêuticas por meio de edital público, teve início em
2007. As pesquisas contaram com o financiamento da Fundação de Amparo à
Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e foram desenvolvidas nos
laboratórios da Embrapa e da Faculdade de Farmácia da UFOP. Nesse
período, foram realizados diversos ensaios para garantir a segurança do
medicamento.
Mastite
A
inflamação da glândula mamária das vacas tem como consequência a
redução da produção, a perda da qualidade do leite, o descarte prematuro
ou até a morte do animal. O controle da doença se dá por meio de
práticas de manejo corretas, entre elas, a desinfecção das tetas antes e
após a ordenha. A prevenção e o tratamento são realizados em todo o
rebanho no período de secagem das vacas, quando é administrado um
antibiótico preventivo em todos os quartos mamários do animal. Esse é um
dos momentos em que o antibiótico nanoestruturado alcança maior
eficiência.
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