1º Dia de Campo do Projeto Biomas apresenta alternativas à produção agrossilvipastoril na Caatinga
Tido como um bioma desafiador por suas restrições hídricas, a Caatinga
traz em si os recursos necessários para tornar a produção agrícola mais
sustentável. É necessário, no entanto, que a pesquisa se torne uma
aliada de quem produz na busca por alternativas que promovam maior
harmonia entre os sistemas de produção e a preservação ambiental. Com
esse objetivo, no ano de 2010, a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil (CNA) criaram o Projeto Biomas. Na última quinta-feira, dia 16, o
projeto promoveu um Dia de Campo na área experimental da Fazenda
Triunfo, propriedade do Sr. Edson Ribeiro Gomes, no município cearense
de Ibaretama, localizado a 143 km de Fortaleza. Produtores rurais,
técnicos, representantes de órgãos públicos e pesquisadores conheceram
os primeiros resultados dessa experiência.
Para Gustavo Curcio, pesquisador da Embrapa Florestas (Colombo-PR) e coordenador nacional do Projeto Biomas, um dos grandes desafios é fazer com que a árvore também seja protagonista nas propriedades rurais brasileiras: "A árvore pode e deve ser internalizada na propriedade rural nos três sistemas que existem na propriedade: Área de Preservação Permanente (APP), Área de Reserva Legal (ARL) e a Área de Sistema Produtivo (ASP). Com o projeto, buscamos promover uma consciência coletiva de que as árvores fazem parte desses sistemas".
A Caatinga é frequentemente associada à seca, pobreza e pouca biodiversidade, mas ao contrário do que se pensa, esse bioma confere valores biológicos e econômicos significativos para o país. A "floresta branca", como é chamada em tupi-guarani, evita a emissão do gás carbônico (CO2), conserva a água e o solo, bem como é fonte de matérias primas como frutos silvestres, forragem, fibras, plantas medicinais, dentre outros. A principal atividade econômica desenvolvida no ecossistema é a agropecuária.
A perspectiva de conciliar produção agrícola com sustentabilidade é ressaltada pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (FAEC), Flávio Saboya: "As essências florestais que a Caatinga dispõe são ainda pouco conhecidas por parte dos agricultores. Existe uma essência, obtida a partir do pau-violeta (Dalbergia cearensis Ducke), por exemplo, que foi o maior produto de exploração no período da colonização. Esse projeto pretende, entre outras questões, mostrar o potencial das espécies nativas florestais e suas multiplicidades de uso".
Presidente do sindicato rural de Ibaretama e vice-presidente da FAEC, Carlos Bezerra foi um dos articuladores da instalação do projeto na região. Para o produtor, um dos principais resultados da iniciativa até o momento foi a percepção da importância da árvore para a atividade econômica que realizam, além do maior conhecimento sobre as espécies nativas. Bezerra revela que, antes mesmo da realização do dia de campo, a experiência já vinha atraindo o interesse de produtores e empresários locais: "Costumamos promover visitas e trazer técnicos para a área experimental. O plantio do pau-sabiá para a extração de madeira vem chamando bastante nossa atenção".
Administrador de empresas e produtor rural, Paulo Henrique de Freitas veio do município de Jaguaretama, a 200 km da Fazenda Triunfo, para conhecer as novidades. O agricultor afirma que já adotou algumas medidas no sentido de tornar sua propriedade mais sustentável, como a destinação de 20 % do terreno para a constituição de uma reserva ambiental. Produtor de gado, de milho e de sorgo, Paulo Henrique espera realizar esse trabalho de forma mais "organizada e planejada" a partir das informações obtidas no dia de campo.
Francisco Almir Frutuoso, presidente do sindicato rural do município de Madalena (CE), deixou a Fazenda Triunfo bastante animado com a experiência. Para o agricultor, que atua na área de produção de leite, o conhecimento adquirido no dia de campo foi "muito positivo", haja vista que os produtores da região ainda carecem de mais informações sobre o Código Florestal. "Precisamos preservar o que a natureza nos ofereceu sem deixar de lado a produção. As espécies nativas podem ser preservadas e também exploradas do ponto de vista econômico", comenta.
Recuperar áreas degradadas é o grande desafio da pesquisa
Diversas instituições de pesquisa compõem o projeto Biomas Caatinga, que busca integrar os conhecimentos gerados de forma sistemática. Os subprojetos dividem-se conforme os sistemas existentes na propriedade: Área de Preservação Permanente (APP), Área de Reserva Legal (ARL), Áreas de Sistemas Produtivos (ASP) e Recuperação de Áreas Degradadas (RAD).
Técnicos do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) produzem algumas das mudas a serem implantadas na área experimental. Espécies nativas como o pau-sabiá, a coronha, o pau-branco e o angico-vermelho foram selecionadas. Dentre seus diversos usos, o replantio destina-se à recuperação da mata ciliar, à remoção da salinidade do solo e ao sombreamento das áreas de produção agrícola.
As técnicas empregadas no plantio das mudas se valem tanto de inovações como o uso do hidrogel - um polímero (plástico) que reduz o uso de água e permite que a hidratação ocorra por mais tempo - quanto dos conhecimentos tradicionais, haja vista o uso da bagana da carnaúba como cobertura vegetal e meio de retenção hídrica. Colocada no entorno da cova, além de auxiliar a manter maior umidade na cova, a palha proporciona maior conforto térmico ao diminuir a incidência direta do calor do sol sobre a planta. Tais medidas têm como objetivo garantir a sobrevivência da planta em seus primeiros meses de vida diante de condições bastante adversas. De acordo com Lúcio Alberto Pereira, pesquisador da Embrapa Semiárido (Petrolina-PE) e coordenador regional do Projeto Biomas Catinga, essa etapa representa um dos principais desafios da produção agrícola. "Passado esse período, a planta a consegue se desenvolver bem porque ela é adaptada a esse clima", ressalta.
A regeneração das áreas situadas à margem dos rios da região também é uma preocupação do Projeto Biomas. Identificar quais espécies possuem melhor adaptação aos solos ribeirinhos é o objetivo do estudo de Maria da Penha Gonçalves, doutoranda da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). A pesquisadora afirma, no entanto, que nem sempre é possível recuperar o solo por meio do replantio: "Muitas áreas foram totalmente devastadas. Estudamos diversas alternativas nessa recuperação para além do plantio de mudas em si. Estamos testando técnicas menos onerosas ao produtor, mas que possam atingir os mesmos objetivos, como os poleiros artificiais".
A recuperação de áreas devastadas pode vir em conjunto com a criação de pequenos ruminantes e o plantio de espécies alimentícias. Por causa disso, o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) também tem sido usado como uma das estratégias de intervenção no Projeto Bioma Caatinga. Segundo Welinton Fernandes, técnico da Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral-CE) e um dos responsáveis pela implantação do ILPF na Fazenda Triunfo, a intenção é mostrar ao produtor que não é necessário degradar para obter retorno financeiro com sua propriedade. "Embora o manejo incorreto do solo ainda consiga gerar resultados nos dois primeiros anos, a produção cai drasticamente após esse período", comenta.
No sistema ILPF, plantas forrageiras são introduzidas nas áreas de cultivo de forma consorciada com a vegetação natural da Caatinga. A forragem serve como alimento para caprinos e ovinos, além de enriquecer o solo degradado. O plantio de espécies nativas como a jurema-preta, a algaroba, o pau-sabiá e a catingueira permite a recomposição da biodiversidade vegetal e do solo, gerando melhorias na produção e, consequentemente, na renda do produtor. "A rentabilidade pode parecer pequena no início, mas a estabilidade conseguida com o sistema permite ganhos maiores no futuro", explica Welinton Fernandes.
Sobre o Projeto Biomas
O Projeto Biomas, iniciado em 2010, é fruto de uma parceria entre a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com a participação de mais de quatrocentos pesquisadores e professores de diferentes instituições, em um prazo de nove anos. Os estudos estão sendo desenvolvidos para viabilizar soluções com árvores para a proteção, recuperação e o uso sustentável de propriedades rurais nos diferentes biomas brasileiros. O Projeto Biomas tem o apoio do SENAR, SEBRAE, Monsanto, John Deere e BNDES.
Na Caatinga, o projeto conta com a coordenação da Embrapa Semiárido em parceria com a Embrapa Caprinos e Ovinos, Embrapa Florestas, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Ceará / Campus Quixadá, Universidade Estadual Vale do Aracaú - UVA, Universidade Federal da Paraíba - UFPB, Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará, Administração Regional do SENAR Ceará e sindicatos rurais da região.
Para Gustavo Curcio, pesquisador da Embrapa Florestas (Colombo-PR) e coordenador nacional do Projeto Biomas, um dos grandes desafios é fazer com que a árvore também seja protagonista nas propriedades rurais brasileiras: "A árvore pode e deve ser internalizada na propriedade rural nos três sistemas que existem na propriedade: Área de Preservação Permanente (APP), Área de Reserva Legal (ARL) e a Área de Sistema Produtivo (ASP). Com o projeto, buscamos promover uma consciência coletiva de que as árvores fazem parte desses sistemas".
A Caatinga é frequentemente associada à seca, pobreza e pouca biodiversidade, mas ao contrário do que se pensa, esse bioma confere valores biológicos e econômicos significativos para o país. A "floresta branca", como é chamada em tupi-guarani, evita a emissão do gás carbônico (CO2), conserva a água e o solo, bem como é fonte de matérias primas como frutos silvestres, forragem, fibras, plantas medicinais, dentre outros. A principal atividade econômica desenvolvida no ecossistema é a agropecuária.
A perspectiva de conciliar produção agrícola com sustentabilidade é ressaltada pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (FAEC), Flávio Saboya: "As essências florestais que a Caatinga dispõe são ainda pouco conhecidas por parte dos agricultores. Existe uma essência, obtida a partir do pau-violeta (Dalbergia cearensis Ducke), por exemplo, que foi o maior produto de exploração no período da colonização. Esse projeto pretende, entre outras questões, mostrar o potencial das espécies nativas florestais e suas multiplicidades de uso".
Presidente do sindicato rural de Ibaretama e vice-presidente da FAEC, Carlos Bezerra foi um dos articuladores da instalação do projeto na região. Para o produtor, um dos principais resultados da iniciativa até o momento foi a percepção da importância da árvore para a atividade econômica que realizam, além do maior conhecimento sobre as espécies nativas. Bezerra revela que, antes mesmo da realização do dia de campo, a experiência já vinha atraindo o interesse de produtores e empresários locais: "Costumamos promover visitas e trazer técnicos para a área experimental. O plantio do pau-sabiá para a extração de madeira vem chamando bastante nossa atenção".
Administrador de empresas e produtor rural, Paulo Henrique de Freitas veio do município de Jaguaretama, a 200 km da Fazenda Triunfo, para conhecer as novidades. O agricultor afirma que já adotou algumas medidas no sentido de tornar sua propriedade mais sustentável, como a destinação de 20 % do terreno para a constituição de uma reserva ambiental. Produtor de gado, de milho e de sorgo, Paulo Henrique espera realizar esse trabalho de forma mais "organizada e planejada" a partir das informações obtidas no dia de campo.
Francisco Almir Frutuoso, presidente do sindicato rural do município de Madalena (CE), deixou a Fazenda Triunfo bastante animado com a experiência. Para o agricultor, que atua na área de produção de leite, o conhecimento adquirido no dia de campo foi "muito positivo", haja vista que os produtores da região ainda carecem de mais informações sobre o Código Florestal. "Precisamos preservar o que a natureza nos ofereceu sem deixar de lado a produção. As espécies nativas podem ser preservadas e também exploradas do ponto de vista econômico", comenta.
Recuperar áreas degradadas é o grande desafio da pesquisa
Diversas instituições de pesquisa compõem o projeto Biomas Caatinga, que busca integrar os conhecimentos gerados de forma sistemática. Os subprojetos dividem-se conforme os sistemas existentes na propriedade: Área de Preservação Permanente (APP), Área de Reserva Legal (ARL), Áreas de Sistemas Produtivos (ASP) e Recuperação de Áreas Degradadas (RAD).
Técnicos do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) produzem algumas das mudas a serem implantadas na área experimental. Espécies nativas como o pau-sabiá, a coronha, o pau-branco e o angico-vermelho foram selecionadas. Dentre seus diversos usos, o replantio destina-se à recuperação da mata ciliar, à remoção da salinidade do solo e ao sombreamento das áreas de produção agrícola.
As técnicas empregadas no plantio das mudas se valem tanto de inovações como o uso do hidrogel - um polímero (plástico) que reduz o uso de água e permite que a hidratação ocorra por mais tempo - quanto dos conhecimentos tradicionais, haja vista o uso da bagana da carnaúba como cobertura vegetal e meio de retenção hídrica. Colocada no entorno da cova, além de auxiliar a manter maior umidade na cova, a palha proporciona maior conforto térmico ao diminuir a incidência direta do calor do sol sobre a planta. Tais medidas têm como objetivo garantir a sobrevivência da planta em seus primeiros meses de vida diante de condições bastante adversas. De acordo com Lúcio Alberto Pereira, pesquisador da Embrapa Semiárido (Petrolina-PE) e coordenador regional do Projeto Biomas Catinga, essa etapa representa um dos principais desafios da produção agrícola. "Passado esse período, a planta a consegue se desenvolver bem porque ela é adaptada a esse clima", ressalta.
A regeneração das áreas situadas à margem dos rios da região também é uma preocupação do Projeto Biomas. Identificar quais espécies possuem melhor adaptação aos solos ribeirinhos é o objetivo do estudo de Maria da Penha Gonçalves, doutoranda da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). A pesquisadora afirma, no entanto, que nem sempre é possível recuperar o solo por meio do replantio: "Muitas áreas foram totalmente devastadas. Estudamos diversas alternativas nessa recuperação para além do plantio de mudas em si. Estamos testando técnicas menos onerosas ao produtor, mas que possam atingir os mesmos objetivos, como os poleiros artificiais".
A recuperação de áreas devastadas pode vir em conjunto com a criação de pequenos ruminantes e o plantio de espécies alimentícias. Por causa disso, o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) também tem sido usado como uma das estratégias de intervenção no Projeto Bioma Caatinga. Segundo Welinton Fernandes, técnico da Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral-CE) e um dos responsáveis pela implantação do ILPF na Fazenda Triunfo, a intenção é mostrar ao produtor que não é necessário degradar para obter retorno financeiro com sua propriedade. "Embora o manejo incorreto do solo ainda consiga gerar resultados nos dois primeiros anos, a produção cai drasticamente após esse período", comenta.
No sistema ILPF, plantas forrageiras são introduzidas nas áreas de cultivo de forma consorciada com a vegetação natural da Caatinga. A forragem serve como alimento para caprinos e ovinos, além de enriquecer o solo degradado. O plantio de espécies nativas como a jurema-preta, a algaroba, o pau-sabiá e a catingueira permite a recomposição da biodiversidade vegetal e do solo, gerando melhorias na produção e, consequentemente, na renda do produtor. "A rentabilidade pode parecer pequena no início, mas a estabilidade conseguida com o sistema permite ganhos maiores no futuro", explica Welinton Fernandes.
Sobre o Projeto Biomas
O Projeto Biomas, iniciado em 2010, é fruto de uma parceria entre a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com a participação de mais de quatrocentos pesquisadores e professores de diferentes instituições, em um prazo de nove anos. Os estudos estão sendo desenvolvidos para viabilizar soluções com árvores para a proteção, recuperação e o uso sustentável de propriedades rurais nos diferentes biomas brasileiros. O Projeto Biomas tem o apoio do SENAR, SEBRAE, Monsanto, John Deere e BNDES.
Na Caatinga, o projeto conta com a coordenação da Embrapa Semiárido em parceria com a Embrapa Caprinos e Ovinos, Embrapa Florestas, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Ceará / Campus Quixadá, Universidade Estadual Vale do Aracaú - UVA, Universidade Federal da Paraíba - UFPB, Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará, Administração Regional do SENAR Ceará e sindicatos rurais da região.
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