quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Possibilidade de La Niña movimenta mercado de commodities agrícolas

Fenômeno climático causa seca nos Estados Unidos e América do Sul



agricultura_solo_seca (Foto: Robispierre Giuliani/Ed. Globo)
O El Niño deve alcançar o pico no inverno (no Hemisfério Norte), de acordo com os principais modelos meteorológicos, e a expectativa é de que o fenômeno climático comece a perder força no primeiro semestre de 2016. Com isso, investidores já começam a se antecipar quanto à possibilidade de La Niña, fenômeno que também tem fortes impactos na produção agrícola mundial e pode influenciar os mercados de commodities. Eventos de El Niño frequentemente são seguidos pelo fenômeno inverso, La Niña. Alguns analistas apontam, inclusive, que a ocorrência de La Niña pode ter impacto ainda mais acentuado nos preços de commodities agrícolas.
Recentemente, os departamentos de clima da Austrália e do Japão afirmaram que o El Niño atual já pode ter chegado ao auge e deve diminuir ao longo do primeiro semestre, com o resfriamento gradual das águas superficiais do Oceano Pacífico. No início de dezembro, o El Niño - o mais forte desde 1997/1998 - causou a elevação da temperatura das águas em 3,6 graus Fahrenheit em alguns pontos. O resultado no mercado foi um rali nos preços de óleo de palma, açúcar e lácteos.
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O fenômeno La Niña ocorre quando o padrão de ventos sobre o oceano se altera e causa o esfriamento anormal das águas da região central e leste do Oceano Pacífico. Assim como o El Niño, que causa o aquecimento das águas, essa mudança na temperatura pode influenciar o clima diversos países ao redor do mundo. A intensidade do fenômeno é medida pelas temperaturas do oceano e pelas modificações nos padrões de ventos. Se o El Niño perder força no primeiro semestre do ano que vem, como previsto, é possível a ocorrência de La Niña a partir do fim de 2016 ou início de 2017.

Normalmente, o La Niña causa clima mais seco em alguns Estados dos Estados Unidos e na América do Sul. Na Austrália, Indonésia e América Central, o efeito é inverso, causando tempo mais úmido que a média. Além disso, o fenômeno climático aumenta a probabilidade de formação de ciclones tropicais no Pacífico.

"Fala-se muito sobre o El Niño, mas muito pouco de La Niña", afirmou David Ubilava, pesquisador da Escola de Economia da Universidade de Sydney, que estuda a correlação entre anomalias climáticas e os preços de commodities. No Canadá e nos Estados Unidos, por exemplo, estiagens são mais prováveis em anos de La Niña, o que pode reduzir a oferta de alimentos e sustentar os preços.

"Um evento de La Niña forte tem impacto potencial nos mercados agrícolas maior que um El Niño, uma vez que afeta o clima em um muitos países produtores e exportadores importantes, em especial Brasil e Estados Unidos", explicou Aurelia Britsch, analista de commodities sênior do BMI Research. A consultoria avalia que o La Niña coloca risco maior aos preços de milho, soja, trigo, algodão e café.

Apesar de o El Niño ser mais conhecido, os preços de soja, milho e trigo podem registrar oscilações 50% maiores durante eventos de La Niña, afirmou Erik Norland, economista sênior do CME Group em Nova York.

Nos 12 meses após a confirmação de La Niña em julho de 2010, os futuros de trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) subiram 21%, os de soja avançaram 39%. Na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), os contratos de açúcar subiram 67%.

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