Governo reduz intervenção em preço agrícola
O excesso de oferta da mandioca fez com que este fosse o único produto que dependeu da política federal
O salto da moeda norte-americana, que ultrapassou R$ 4 durante o ano, segurou a receita agrícola no Brasil, diante da queda dos indicadores externos. Este cenário inibiu a intervenção do governo na regulação de preços, mas o mesmo câmbio que ajudou o setor torna incerta a estabilidade do valor da produção, uma vez que as margens de lucro do agricultor estarão menores em 2016.
A expectativa de lucratividade mais baixa é sustentada pelo impacto do dólar sobre os insumos para composição da safra 2015/ 2016.
Um levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica que, neste ano, as operações de Aquisição do Governo Federal (AGF) envolveram recursos de R$ 20 milhões. No entanto, a verba foi destinada à compra de 21,7 mil toneladas de farinha e fécula de mandioca.
"Este cenário demonstra pouca necessidade de interferência do governo federal, em razão da boa performance do agronegócio. Tal desempenho teve forte influência do câmbio, que impulsionou as exportações e inibiu importações, aquecendo a demanda pelos principais produtos nacionais, dos quais se destacam a soja, o milho e o arroz", avaliam os especialistas da Conab. O setor foi responsável por 46,3% de todas as exportações brasileiras entre os meses de janeiro e setembro de 2015, contra 43,7% do ano anterior.
A AGF é um instrumento da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM). Quando o preço de mercado estiver abaixo do preço mínimo estabelecido para a safra vigente de qualquer produto da pauta da PGPM, a Conab entra no mercado comprando o referido produto. A operação é condicionada ao repasse de recursos pelo Tesouro Nacional.
Exceção
Os únicos produtos que precisaram de uma ação incisiva do governo federal foram os provenientes da mandioca. A Conab ressalta que a seca registrada nos últimos anos na região Nordeste promoveu um acentuado declínio na produção da raiz de mandioca, o que resultou na elevação dos preços desses produtos e incentivou agricultores de outras regiões a aumentarem sua produção na lavoura.
"Porém, desde o final de 2014 a seca no Nordeste vem mostrando-se menos severa, permitindo a recuperação gradual dos agricultoresnordestinos e uma superoferta da mandioca, com a consequente queda nos preços - daí a necessidade de intervenção do governo federal", informa.
Próximos passos
A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) alerta para os pontos negativos do câmbio. Para o diretor executivo da entidade, Luiz Cornacchioni, se por um lado a moeda-americana segurou o faturamento no campo, é preciso pensar no futuro, com base na pressão do dólar sobre os insumos.
"Se não tivermos uma tragédia muito grande, que leve a um repique de dólar por volta dos R$ 5, o quadro que vimos neste ano não vai se repetir", destaca o executivo sobre a compensação que o câmbio fez ante a queda nos preços internacionais das commodities.
Apesar de diversas incertezas econômicas e políticas no País, o consenso do setor é que as margens de renda serão mais baixas.
"O que consome muito da nossa margem é o custo com logística, um segmento que não caminhou durante este ano", avalia Cornacchioni.
Para o executivo, em uma visão a médio prazo, até mesmo a safra 2016/ 2016 deve ter o crédito rural comprometido. Além disso, não há perspectivas de preços melhores no mercado internacional. Com isso, o nível de interferência do governo nos preços dependerá da conjuntura do setor. (DCI)
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