segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Saiba como os fenômenos El Niño e La Niña afetam a agricultura brasileira

Entenda as diferenças entre os dois e saiba como o fenômeno deste ano afetará a safra 2014/2015

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Aquecimento das águas do oceano Pacífico interefere bastante no clima da América do Sul
Antes de entender completamente quais serão os efeitos deste El Niño de 2014, é importante esclarecer quais são os principais impactos que estes fenômenos de escala global têm em todas as regiões do Brasil.
O El Niño é o aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico Equatorial. Já o La Niña é o fenômeno oposto: o resfriamento das mesmas águas. Até aqui, é simples. Mas determinar os efeitos destes fenômenos sobre as diferentes regiões produtoras do país é um pouco mais complicado.
Todo o planeta sente os efeitos dessas anomalias, mas a região sul da América do Sul, que inclui o sul do Brasil, a Argentina, o Chile, o Uruguai e o Paraguai, é uma das mais afetadas por eventos de El Niño e La Niña. Dependendo do fenômeno, estas áreas apresentam forte variabilidade de precipitação interanual, ou seja, variação tanto de volume quanto de distribuição das chuvas ao longo do ano.
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Os produtores do sul do Brasil sabem bem disso já que contam com a experiência de que, em anos de El Niño, há maior ocorrência de safras fartas, porque a chuva é abundante. Mas em anos de La Niña, não se pode pensar que o efeito é o oposto. O que muda de um fenômeno para outro é a qualidade, a quantidade e a distribuição das chuvas sobre o Brasil.
Efeitos sobre o Brasil
Naturalmente, pelo próprio tamanho do nosso país, há uma sazonalidade específica para cada região do Brasil e existem outros sistemas meteorológicos locais que atuam independentes dos fenômenos de escala global como o El Niño e o La Niña. O nosso país abriga diferentes tipos de clima: equatorial, tropical, semiárido, subtropical, tropical litorâneo e de altitude.
Quando há o aquecimento ou o resfriamento dos oceanos, há uma mudança nesta sazonalidade natural por conta do aquecimento e do resfriamento da atmosfera. Esta alteração muda a distribuição das chuvas e também as chamadas “correntes de jato”.
– A mudança do posicionamento da corrente de jato no Brasil é que posiciona os sistemas meteorológicos – explica a técnica em meteorologia da Somar Patrícia Vieira.
Com o El Niño, a atmosfera está mais aquecida e o calor é combustível para as chuvas de verão que passam a ocorrer na forma de pancadas. Para o produtor, nestes anos, há maiores janelas de tempo seco para os trabalhos de campo. Além disso, as correntes polares ficam mais fracas e trazem menos riscos de geadas durante o inverno.
Em anos de El Niño, a corrente de jato vai para a região Sul, mantendo as frentes frias represadas por lá e deixando as chuvas abundantes nos meses de inverno e de primavera. Já no Nordeste, a condição é de secas mais severas. No Sudeste e no Centro-Oeste não há padrão característico na mudança nas chuvas, mas há um aumento das temperaturas médias, inclusive no inverno. No Norte do Brasil, há uma diminuição das chuvas e aumento dos focos de incêndio.
Em anos de La Niña, com a atmosfera mais fria, a chuva tem tendência mais contínua, em vez de cair na forma de pancadas. As frentes frias são mais oceânicas e acabam levando mais chuvas para as regiões próximas à costa do Sul e do Sudeste. A região Sul fica com o tempo mais seco, diferente do que acontece em anos de El Niño, quando as frentes frias tendem a ser continentais.
Já para as regiões Norte e Nordeste, há um aumento de precipitação e da vazão dos rios. Em relação à temperatura, faz mais frio.
– Com o fenômeno La Niña há mais ocorrência de granizo, o que prejudica muito o setor de hortifruti, e as massas de ar de origem polar são mais intensas e frequentes – explica Patrícia Vieira.
Além de todos estes fatores, não podemos esquecer que não só é a temperatura do oceano Pacífico que determina a intensidade dos episódios de chuva. A temperatura do oceano Atlântico também interfere no clima, contribuindo ou não para a atuação dos sistemas meteorológicos locais.
Eventos mais fortes
Há relatos de registros de El Niño desde a época do descobrimento das Américas, com depoimentos das mudanças de ventos durante as navegações. De acordo com o Centro de Pesquisas Espaciais e Estudos Climáticos (CPTec), eventos de El Niño e La Niña têm uma tendência a se alternarem a cada três a sete anos. Porém, de um evento ao seguinte, o intervalo pode mudar de 1 a 10 anos. As intensidades dos eventos variam bastante de caso a caso. O El Niño mais intenso já observado mar ocorreu nos biênios de 1982/1983 e 1997/1998.
Em geral, episódios La Niña também têm frequência de 2 a 7 anos. Mas, na última década, eles têm ocorrido em menor quantidade que o El Niño. Além do mais, os episódios La Niña têm períodos de aproximadamente 9 a 12 meses, e somente alguns episódios persistem por mais que 2 anos. Outro ponto interessante é que os valores das anomalias de temperatura da superfície do mar (TSM) em anos de La Niña têm desvios menores que em anos de El Niño.
Enquanto observam-se anomalias de até 4,5ºC acima da média em alguns anos de El Niño, em anos de La Niña as maiores anomalias observadas não chegam a 4ºC abaixo da média. Episódios mais fortes do La Niña ocorreram nos anos de 1988/1989, em 1995/1996 e em 1998/1999.
Nas últimas décadas tivemos, inclusive, episódios dos dois fenômenos. O destaque vai para o El Niño Modoki de 2004/2005. A diferença de um El Niño Modoki é que o aquecimento do oceano não acontece de forma simultânea e completa, como em episódios do El Niño clássico, ou Canônico como também é chamado.
Para exemplificar as diferenças, basta lembrar alguns episódios do passado. Em 2009/2010 tivemos um El Niño clássico que, por ser mais intenso, garantiu chuvas regulares e acima da média durante o período de duração do fenômeno sobre o Sul do Brasil, e falta de chuva no Nordeste – as duas regiões que apresentam maior correlação com o fenômeno.
Já em 2004/2005, o país foi atingido pelo El Niño Modoki, agravado pelas águas mais frias do oceano Atlântico. Essa configuração trouxe chuvas irregulares para a região Sul a partir da primavera. O verão de 2005 foi regido por uma forte estiagem, principalmente os meses de fevereiro e março, frustrando a expectativa dos produtores e causando a maior quebra de safra da história.
O El Niño deste ano
Para este ano, o El Niño em curso tem como efeito mais evidente a redução do frio extremo no Centro-Sul do Brasil durante o inverno. Este fator combinado, às águas quentes do oceano Atlântico próximo à costa do Sul do Brasil, retardou a chegada do frio no outono, beneficiando diretamente as lavouras de milho segunda safra do Paraná e de Mato Grosso do Sul, que têm na questão da temperatura o seu maior risco.
A redução do frio também vai beneficiar as lavouras de trigo do Paraná, que no ano passado foram muito castigadas com as geadas. No entanto, o risco associado ao El Niño está na fase final desta lavoura em função do aumento das chuvas na hora da colheita. O risco é ainda maior para as lavouras do Rio Grande do Sul que plantam mais tarde e podem ser prejudicadas com o aumento de chuvas na primavera.
Para o Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, a presença do El Niño nesta época do ano também reduz o risco de frio. Uma das características é que o período seco não será tão extremo e longo, o que beneficia setores como cana-de-açúcar, café, pastagens e produção de carne e leite. Fica a ressalva apenas que, para estes setores, em função de alguns episódios de chuva, podem ter alguns problemas operacionais e de manejo.
Para as regiões Norte e Nordeste do Brasil, o El Niño não tem uma influência direta nesta época do ano. O que vale destacar em relação à condição do El Niño Modoki está relacionado com o verão: não há garantia de chuvas regulares para a safra de verão do Sul. Mesmo com o El Niño, esta região pode enfrentar períodos de estiagem, que é o principal risco para suas lavouras.
Para as lavouras do Sudeste e do Centro-Oeste as condições médias de clima devem prevalecer. Para o Nordeste do Brasil, o El Niño fraco e de curta duração passa a ser uma boa notícia, já que o fenômeno não provocará a redução de chuvas entre fevereiro e maio, condição que acontece em períodos com El Niño fortes.
A origem do nome
A palavra El Niño é derivada do espanhol, e refere-se à presença de águas quentes que todos os anos aparecem na costa norte de Peru na época de Natal. Os pescadores do Peru e Equador chamaram a esta presença de águas mais quentes de Corriente de El Niño, em uma referência ao Menino Jesus (Niño Jesus).
Ao imaginar o oposto do fenômeno, o resfriamento das águas, nada melhor para os especialistas no assunto darem a nomenclatura feminina para o evento e assim surgiu o nome La Niña. Afinal se existe o guri, tem que existir a guria.
Mas o fenômeno La Niña já teve outros codinomes menos usados como El Viejo, (O Velho), ou anti-El Niño. No entanto, como El Niño se refere ao menino Jesus, anti-El Niño é um nome que nao pegou bem e é pouco utilizado.
CANAL RURAL

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