Medidas da presidenta Dilma inovam a reforma agrária
A presidenta da República, Dilma Roussef,
assinou decretos desapropriatórios que destinam mais 92 áreas ao
programa de reforma agrária, além da Medida Provisória nº 636 que dispõe
sobre a liquidação de créditos disponibilizados a assentados e concede
remissões. As mudanças foram publicadas, nesta sexta-feira (27), no Diário Oficial da União.
Com os decretos, são 100 novas áreas
liberadas para o programa de reforma agrária, desde outubro, além de
novas regras de financiamento para os assentados, solução definitiva do
endividamento e titulação mais acessível. As medidas inovam a política
pública de reforma agrária, que já garantiu acesso à terra a mais de 1,2
milhão de famílias em toda a sua história.
O ministro do Desenvolvimento Agrário,
Pepe Vargas, avalia que com a nova metodologia para obtenção de área,
instituída por meio das Portarias MDA 5, 6 e 7,
a reforma agrária ganha agilidade e segurança na implantação dos
assentamentos. “Para dar mais rapidez a esse processo, garantiremos
assistência técnica para viabilizar o desenvolvimento da produção dos
assentados e gerar renda para as famílias assentadas, conferindo a elas
dignidade e promoção da paz no campo”, enfatizou.
“Essas medidas sinalizam o caminho que
está tomando a reforma agrária, uma política que harmoniza o acesso à
terra e um conjunto de políticas públicas viabilizadas não apenas pelo
Incra, mas por todo o governo”, acrescenta o presidente do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Carlos Guedes.
100 novas áreas para assentamentos
Os decretos destinam à reforma agrária 193.566,21 hectares em 16 estados. Juntas, as oito áreas decretadas em 25 de outubro passado,
e as 92 publicadas hoje, têm capacidade para receber 4.670 famílias de
trabalhadores rurais. O Incra investirá R$ 267,1 milhões na indenização
dos imóveis aos proprietários ainda em 2014. O pagamento da terra nua é
feito por meio de Títulos da Dívida Agrária (TDAs) e as benfeitorias são
pagas em dinheiro. O pagamento é feito no momento em que a autarquia
ingressa na Justiça com o pedido da posse do imóvel para criar o
assentamento.
Levantamento feito pela Diretoria de
Obtenção de Terras do Incra que resultou nos decretos apontou a
utilização, em média, de apenas 22,2% das áreas utilizáveis dos imóveis.
Em 50 deles não havia qualquer atividade produtiva desenvolvida pelos
proprietários.
No entanto, a análise agronômica comprova
que elas estão aptas a produzir alimentos e que o aumento do seu valor
de mercado é significativo. A valorização da terra nas regiões em que
estão inseridas alcançou 73,6% em 36 meses, entre julho de 2010 a agosto
de 2013, segunda a tabela FNP. No período, a valorização de terras no
Brasil atingiu 68,3%. "Isso demonstra que as áreas são viáveis. As
terras dessas regiões estão valorizadas e a reforma agrária vai cumprir
seu papel de produzir alimentos, diversificar a produção e gerar
ocupação e renda", explica o diretor de Obtenção de Terras, Marcelo
Afonso.
Políticas Públicas
As novas famílias atendidas deverão estar
no CadÚnico e os assentamentos serão regularizados conforme a Resolução
Conama 458/13, por meio do Cadastro Ambiental Rural. Com a terra, o
Governo Federal garantirá assistência técnica e iniciará os
investimentos das demais políticas públicas, como os programas Minha
Casa, Minha Vida (MCMV), Água para Todos e Luz para Todos, em cronograma
previsto já nas portarias de criação dos assentamentos.
Assistência técnica
De imediato, a assistência técnica vai
chegar a 73 dos futuros assentamentos. Atualmente, o Incra garante esses
serviços a 306 mil famílias e a projeção é a de beneficiar outras 100
mil famílias em 2014, fazendo com que todos os novos beneficiários
contem com assistência técnica.
Dados da Diretoria de Desenvolvimento de
Assentamentos da autarquia apontam que em até cinco anos as famílias
poderão gerar um valor da produção equivalente a dois salários mínimos
mensais, uma vez que na região onde se localizam as áreas
desapropriadas, a média do valor da produção da agricultura familiar
chega a 3,7 salários mínimos mensais. “Essa estimativa nos permite
afirmar que esses projetos poderão gerar um valor bruto de produção de
aproximadamente R$ 81 milhões ao ano quando estiverem produzindo
excedentes”, diz Cesar Aldrighi, diretor de Desenvolvimento de
Assentamentos.
Com base no Censo Agropecuário 2006, cada
lote de reforma agrária deverá ocupar, em média, 2,8 pessoas. Com isso,
estima-se que mais de 13 mil pessoas estarão envolvidas com o trabalho
familiar, produzindo alimentos que chegam todos os dias à mesa dos
brasileiros.
Novo Crédito Instalação
Para garantir a segurança alimentar, gerar excedentes e aumentar o valor da produção, a Medida Provisória (MP)
publicada nesta sexta-feira institui o novo Crédito Instalação, a ser
regulamentado com condições mais favoráveis que as atuais formas de
operação e aplicado ainda em 2014.
O depósito do crédito será feito
diretamente na conta do beneficiário e não mais na conta de uma
associação de assentados, como ocorria antes. Historicamente, o Incra
realizava entre 30 mil e 40 mil operações do Crédito Instalação
anualmente. A expectativa da autarquia é a de triplicar esse número,
chegando a 100 mil operações no próximo ano.
Solução do endividamento para assentados e agricultores familiares
A MP também apresenta solução definitiva
para o endividamento nas diferentes linhas de crédito para a reforma
agrária e agricultura familiar. Estimativas do Incra apontam que,
aproximadamente 10 milhões de hectares de áreas reformadas poderão
aumentar a produção e produtividade com as novas condições de
negociação, e acesso a novos créditos.
O Crédito Instalação financiou desde 1985,
quando foi criado, R$ 11 bilhões em investimentos como habitação, apoio
à instalação, produção e infraestrutura básica. E 75% desse valor (R$
8,3 bilhões) foram aplicados nas modalidades Aquisição de Materiais de
Construção e Recuperação/Materiais de Construção, totalizando 930 mil
operações.
Para solucionar essa questão, a MP
atualiza o saldo devedor a uma taxa de 0,5% ao ano, concedendo os mesmos
descontos e prazos que são garantidos aos beneficiários do Grupo 1 do
Programa Minha Casa, Minha Vida. Com isso, o assentado pagará 4% do
saldo devedor, dentro de quatro anos, em parcelas limitadas a R$ 250
anuais.
Em relação às demais modalidades do
Crédito Instalação, a Medida Provisória estabelece a remissão das
dívidas de até R$ 10 mil por beneficiário. Quem deve acima deste valor,
terá rebate de 80% sobre o saldo devedor, mais R$ 2 mil de bônus fixo.
As dívidas dessas categorias somam R$ 2,7 bilhões, concedidos em mais de
1 milhão de operações.
Titulação de assentamentos
A titulação é um direito da família
assentada, e a Medida Provisória traz condições mais favoráveis para
acesso ao título da terra. A Medida Provisória traz como regra a isenção
para lotes de assentamentos criados em terras públicas federais, até o
limite de um módulo fiscal – mesmo tratamento assegurado pelo Programa
Terra Legal, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Já para os lotes de imóveis desapropriados
ou adquiridos por compra direta por parte do Incra e destinados às
famílias assentadas, será usado como parâmetro o valor mínimo de
planilha referencial de preço do Incra, além da aplicação de índices
redutores a serem definidos em regulamento.
Procera e PAA
As dívidas do Programa Especial de Crédito
para a Reforma Agrária (Procera) também serão remitidas quando forem
até R$ 10 mil, para as operações com recursos do Orçamento Geral da
União. Os valores acima de R$ 10 mil terão rebate de 80% e mais R$ 2 mil
de bônus fixo, a serem definidos por meio de decreto. Encerradas as
negociações, será extinto o Fundo Contábil do Procera. São 81,8 mil
operações, envolvendo recursos de R$ 784 milhões.
Assentados e agricultores familiares que
participaram do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) - Compra
Antecipada nos anos de 2003 e 2004 também terão as dívidas remitidas até
o valor de R$ 2,5 mil originalmente contratado. A medida refere-se a
44,5 mil operações e recursos de R$ 91,4 milhões.
Pronaf
As operações do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) dos grupos A e A/C
realizadas entre 1999 e 2010 também serão liquidadas com rebate até 80%
do saldo devedor. O Conselho Monetário Nacional (CMN) definirá
metodologia para atualização, prazos e demais condições da negociação. A
medida irá beneficiar 203 mil assentados.
Já os valores renegociados terão rebate
até 50% sobre o saldo devedor para os assentados das regiões Norte e
Nordeste e até 45% nas demais regiões. As condições da renegociação
também serão definidas pelo CMN. O valor das 233 mil operações feitas
chega a R$ 2,4 bilhões.
As dívidas do Pronaf C/D e E contratadas
até 2008, nas quais o tomador esteja inadimplente desde 22 de novembro
de 2011 também serão renegociadas. Para a liquidação será concedido
rebate até 65% sobre o saldo devedor atualizado até R$ 10 mil e autoriza
as instituições bancárias a concederem bônus adicionais.
A metodologia, prazos e demais condições
para a liquidação serão definidos pelo CMN. A medida beneficia 512 mil
agricultores familiares dos quais 145 mil são assentados. Foram 513 mil
operações envolvendo recursos de R$ 1,4 bilhão, em valores atualizados.
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