Ações do documento
A seca é o fator que mais provoca perdas
na agricultura. Com a expectativa de elevação das temperaturas e
agravamento dos períodos de estiagem, pesquisadores estão empenhados em
antever cenários futuros e encontrar formas de aumentar a eficiência do
uso da água na produção rural. O tema está em discussão no workshop que
começou ontem (19) e segue até amanhã (21), em Brasília/DF, reunindo
cientistas da Embrapa e do The Commonwealth Scientific and Industrial
Research Organisation – CSIRO, principal instituição de pesquisa da
Austrália. O evento é promovido pela Embrapa Agroenergia e a Secretaria
de Relações Internacionais da Empresa.
O chefe de pesquisa e desenvolvimento da
Embrapa Agroenergia, Guy de Capdeville, conta que a Embrapa já investe
no uso eficiente da água há vários anos, com diversas culturas. No
workshop, cientistas brasileiros e australianos estão apresentando as
estratégias adotadas para melhorar essas caraterísticas em culturas como
cana, café, soja, arroz e trigo. Ao final do evento, “vamos discutir
quais grupos podem trabalhar melhor em colaboração”, diz Capdeville.
No território australiano, as plantações
estão em pequenas faixas ao Sul, Nordeste, Leste e Oeste, onde se
produz, principalmente, trigo, algodão, cana-de-açúcar e uva para
produção de vinho. Na imensa área central composta por desertos e
parques nacionais, é praticada a pecuária extensiva, com ainda menos
cabeças de gado por hectare do que no Brasil. A maior parte da produção
agrícola é exportada, sendo a Austrália o principal fornecedor de açúcar
do leste asiático.
O pesquisador Mark Peoples, do CSIRO,
conta que, tal como a brasileira, a agricultura australiana tem
enfrentado alta dos custos agrícolas e instabilidade do mercado. Mas o
maior desafio para o setor, ressalta, é o gerenciamento da água
utilizada na produção. A Austrália passa por períodos de redução do
volume de chuvas que pode durar alguns anos.
Rede de pesquisa
No Brasil, uma das iniciativas que buscam
caminhos para a agricultura em cenários de redução de disponibilidade de
água é a rede de pesquisa AgroHidro. Liderada pela Embrapa, ela reúne
mais de 40 instituições e 80 cientistas. Coordenador dos trabalhos, o
pesquisador da Embrapa Cerrados Lineu Neiva Rodrigues explica que o
objetivo dos projetos da rede é avaliar os impactos das mudanças
climáticas e do uso do solo na disponibilidade de água para a
agricultura e em que medida eles podem afetar as comunidades rurais.
No âmbito da rede, os cientistas estudaram
como a produção de buriti é alterada em situações de escassez hídrica.
Com 20% a 30% menos água, a queda na renda dos produtores rurais pode
chegar a 70%. “A água é o recurso mais básico para a agricultura”,
lembra Rodrigues. Daí a importância dos investimentos para maximizar o
aproveitamento dos volumes disponíveis para as atividades rurais. A rede
AgroHidro já busca critérios para estabelecer uma certificação de uso
eficiente de água e energia na agricultura irrigada, atendendo ao que
prevê a Política Nacional de Irrigação, estabelecida em janeiro deste
ano.
Mudanças climáticas
A rede AgroHidro integra o Portfolio de
Pesquisa em Mudanças Climáticas da Embrapa, que busca entender o
comportamento das culturas agrícolas em situações em que a oferta de luz
e água, bem como as características dos solos e as temperaturas sejam
alteradas. Tomando como base as estimativas do Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (IPCC), os pesquisadores utilizam sistemas de
modelagem matemática para antever as condições de solo, temperatura e
disponibilidade de água nas áreas de cultivo de diferentes produtos
agrícolas.
Em uma das frentes de pesquisa, o objeto
de estudo é o comportamento das plantas nesses cenários e as alterações
de produtividade. Outro grupo dedica-se a analisar o impacto para as
pragas e doenças. “Nós buscamos entender o quão vulnerável as culturas
são às mudanças climáticas e a capacidade que elas têm de voltar ao
estado de equilíbrio”, resume o presidente do comitê gestor do
portfolio, Giampaolo Pellegrino, pesquisador da Embrapa Informática
Agropecuária.
Mark Peoples, do CSIRO, ressalta que o
gerenciamento da água é uma preocupação comum de Brasil e Austrália e
que as estratégias apresentadas durante o evento devem dar origem a
trabalhos conjuntos entre as duas instituições. Resultados de pesquisas
realizadas pelos dois centros podem ser compartilhados, a fim de que se
possa compreender melhor o comportamento das culturas e dos biomas com
as mudanças climáticas e a restrição da oferta de água. Espera-se que
com o avanço na parceria, pesquisadores do CSIRO poderão passar períodos
nos laboratórios da Embrapa ou como pesquisadores visitantes e
vice-versa, em programas de pós-doutorado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ajude o nosso Blog.