Um estudo desenvolvido pela doutoranda Suikinai Nobre, orientada por Itamar Melo, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), busca na Caatinga compostos em micro-organismos (fungos e bactérias) endofíticos similares ao de uma planta da África que já demonstrou ser eficiente para tratar alguns tipos de cânceres. | Foto: Doutoranda Suikina Nobre |
Depois de avaliar plantas do gênero Combretum, a estudante constatou que a planta brasileira, que pode ser encontrada em cinco estados da região do semiárido (Bahia, Piauí, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte) não produz o mesmo composto da planta-irmã da África, mas produz outras substâncias e compostos que também apresentam atividade anti-câncer. “Interessantemente, fungos endofíticos associados a essas plantas demonstraram ser potentes produtores se substâncias anticancerígenas. As pesquisas foram impulsionadas pela descoberta de possíveis novos compostos com tais propriedades, além de que muitos desses fungos isolados também apresentam atividade antifungicida”, explica Melo.
“A diversidade genética dos ecossistemas tem sido usada para solucionar problemas na área da saúde, da agricultura e do meio ambiente”, diz Suikinai. “Deve-se lembrar que a Caatinga é um bioma exclusivo do Brasil, não existindo em nenhum outro lugar espécies tão distintas , adaptadas ao estresse hídrico, intensa radiação solar e altas temperaturas e praticamente intocado quanto a descoberta de produtos biologicamente ativos”.
Com relação ao estudo feito pela Embrapa, o foco foi a descoberta de novos fungos endofíticos. Estes são organismos que habitam o interior das plantas (endofíticos ou endófitos) e têm grande potencial na produção de antibióticos, enzimas, antioxidantes, e diferentes metabólitos, os quais favorecem a adaptação da planta perante as condições adversas.
Plantas da família Combretaceae, objeto de estudo, são conhecidas pelo seu valor medicinal e importância etnofarmacológica na África, Índia, Tailândia e no Brasil. Os usos medicinais mais comuns são no tratamento de cânceres, lepra, febre tropical, hepatite. Estudos fitoquímicos relacionados a essas plantas relatam o isolamento de grupos de compostos estilbenos, o resveratrol e as combretastatins. Tais compostos auxiliam a planta no combate de micro-organismos fitopatógenicos, ataques de insetos e como uso terapêutico estão sendo considerados potentes anticancerígenos em ensaios pré-clínicos.
Nesse sentido, extratos fúngicos com atividades biológicas foram selecionados para avaliação do potencial anticancerígeno, sendo assim, avaliadas contra os seguintes tumores: J744 (linfoma histiocítica, tumor não sólido), P388 (Leucemia LLAT- murino, tumor não sólido), Jurkat (Leucemia LLAT humano, tumor não sólido), k562 (Leucemia eritroblástica humano, tumor não sólido), ECV304 (carcinoma de bexiga humano, tumor sólido), B16F10 (Mieloma murino, tumor sólido) e HeLa (carcinoma cólon humano, tumor sólido). Uma nova linhagem fúngica produtora de dois compostos com atividade anticâncer foi, assim, identificada e pertence ao gênero Aspergillus.
Todas as células cancerígenas foram cedidas pelo Laboratório de Pesquisa do Timo e os experimentos foram realizados no Laboratório de Química de Produtos Naturais, Farmanguinhos - Fiocruz, no Rio de Janeiro.
A elucidação química dos compostos purificados foi realizada nos Estados Unidos, no United Station Departament of Agriculture (USDA) em Oxford, sob a orientação de Agnes Rimando, por ocasião da bolsa sanduíche da doutoranda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ajude o nosso Blog.