Estiagem anula produção agrícola no sertão potiguar
Margareth Grilo - repórter especial
Sem
água, sem roçado. Assim está vivendo o homem do campo no semiárido
potiguar. Este ano, as áreas cultiváveis do Rio Grande do Norte
encolheram em 79,9% e a produção de grãos em relação às principais
culturas - feijão, milho, sorgo, algodão, arroz, mandioca e mamona -
pode ser 91,8% menor. Ou seja, a colheita se resume a 8,2% da safra de
2011, segundo dados do 8º Levantamento da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab)
.
Os dados, levantados entre os dias 23 e 26 de abril, mostram que do total de 157,2 mil hectares cultiváveis, apenas 31,6 mil foram plantados em todo o Estado. O relatório da Conab alerta para a tendência de agravamento da situação, devido à permanente escassez de chuvas. Com a estiagem, os plantios ainda existentes estão se desenvolvendo com dificuldades.
Nos
onze municípios percorridos pela equipe da TRIBUNA DO NORTE, do
Agreste ao Oeste potiguar, os agricultores que arriscaram plantar
perderam tudo. O clima seco queimou os plantios. No assentamento Acauã,
zona rural de Santana do Matos, quarenta assentados mantêm plantio em
14O hectares de terra (cada um tem 3,5 hectares). Plantam mandioca,
feijão, pinha e possuem cultivo de cajueiro (comum e precoce). Os dados, levantados entre os dias 23 e 26 de abril, mostram que do total de 157,2 mil hectares cultiváveis, apenas 31,6 mil foram plantados em todo o Estado. O relatório da Conab alerta para a tendência de agravamento da situação, devido à permanente escassez de chuvas. Com a estiagem, os plantios ainda existentes estão se desenvolvendo com dificuldades.
A única cultura proveitosa é a do cajueiro precoce. Mesmo na estiagem, a plantação ainda rende 15 caixas de caju, por mês. É o que sustenta as famílias. Já as plantações de mandioca, feijão e milho feitas em fevereiro não 'vingaram'. A secura toma conta dos campos de feijão e mandioca. As vagens de feijão estão queimadas; a mandioca não cresceu. "Quando a gente tira, ela está fofa por dentro", comentou o Juliano Soares de Lima, 37, que é tesoureiro da Associação dos Assentados da Serra do Acauã.
No Rio Grande do Norte, as áreas plantadas, segundo a Conab, correspondem a pouco mais de 20% da área cultivável. Nos municípios cortados por barragens, como São Paulo do Potengi e São Rafael, ou com grandes mananciais, como Caicó, as vazantes são a única alternativa de plantio. Mesmo assim, não há quem tenha muita esperança de boa semeadura.
Nas vazantes da barragem Armando Ribeiro Gonçalves, em São Rafael, Francisco Jerônimo, 50, diz que a terra seria boa para o plantio, desde que houvesse incentivos para a produção. Poucos foram os plantios feitos nas vazantes da barragens, que em alguns trechos já atingem 28 metros de extensão.
Em Jucurutu, o plantio, segundo o engenheiro agrônomo da Emater, Taciano Araújo, não chegou a 30% da área plantada em 2011. Em anos anteriores, nesse período, mais de 70% dos produtos já haviam sido cultivados. Este ano, ocorreu, até agora, o plantio de apenas 10%. Em São Tomé, por exemplo, não houve chuva, entre janeiro e maio, e a produção agrícola foi inviabilizada.
Feiras são o termômetro da safra
A safra de 2012 é a pior dos últimos sete anos, segundo relatório da Conab. A produção de grãos atual está projetada em 8.882 toneladas. Em 2011, a safra chegou a 106.5 toneladas. As culturas mais prejudicadas são as do algodão, cuja safra deve ser 96% menor do que o ano passado; a do feijão e do milho devem cair entre 91 e 92%.
No caso do milho, que tradicionalmente já não atende a demanda no Estado, este ano, a dependência da importação será ainda maior. Nas cidades, o grande termômetro da agropecuária são as feiras livres. Elas refletem com exatidão a situação do campo. De banca em banca, o que se vê são alimentos com preço mais alto.
Quem vende alega que o produto vem de regiões onde existe a cultura irrigada, como o Vale do Assu, num custo bem mais alto. Em alguns casos, os alimentos vêm de fora do Estado. Em Currais Novos, apesar da cultura irrigada que ainda existe na Serra de Santana, vários produtos são importados.
A melancia vem do agreste, de áreas de irrigação, a batata doce e as hortaliças, de Natal e até de regiões da Paraíba, como Campina Grande. A feirante Mauricé Dias, 61, diz que nunca viu coisa igual. "A saca de 50 quilos da batata doce que se comprava por cinquenta reais está custando agora noventa reais", afirmou a feirante. O consumidor, segundo ela, está pechinchando, cada vez mais.
Na feira de São Paulo do Potengi, Paulo França, 49 anos, traz o feijão verde e o milho de Vera Cruz, onde mora. Ele pagou R$ 120,00 para levar 150 quilos de feijão e um milheiro de milho.
Cultivo de vazante tem menor perda
Onde há água, há riqueza. O que restou no sertão para se fazer algum plantio foram as margens das barragens. Nessas áreas, algumas culturas sobrevivem. Mas hoje os plantios se resumem a hortaliças e plantio de capim, para manutenção do gado. O agricultor reclama ajuda para aquisição de equipamentos que possa desenvolver culturas irrigadas. Outros, apontam projetos que poderiam estar em franca produção, mas estão decadentes.
Francisca Evangelista da Silva, 43, produz no sítio Curicaca nas margens da barragem campo Grande diversas hortaliças. Tem perto de duas mil covas irrigadas. O investimento no projeto foi de R$ 4 mil. A colheita é diária e a aguação feita duas vezes por dia.
Mas, mesmo nessa região, a produção atrasa. As hortaliças levam mais tempo para se desenvolver.
Em alguns municípios, as prefeituras fazem aquisição de alimentos da Agricultura Familiar para a merenda escolar. Em São Paulo do Potengi, o prefeito José Azevedo, disse que 30% da merenda é composta por produtos comprados de 37 agricultores.
Nota
Com relação à informação publicada ontem na matéria "Seca reduz oferta de água e castiga população do Sertão", a Caern informa que o limite de uso da água da Lagoa do Bonfim não está sendo ultrapassado. Leva-se em conta a medida a partir da lâmina d'água, que é de 39 metros.
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