Os subprodutos da agroindústria são fontes valiosas de proteína, energia e fibra para indústria de produção animal e, tradicionalmente, estes subprodutos têm sido utilizados para substituir concentrados energéticos ou protéicos.
Alguns subprodutos, devido à organização da cadeia agroindustrial a que pertencem, ultrapassaram as fronteiras nacionais e tornaram-se “produto” de exportação; a exemplo do farelo de soja, que atualmente tem uma grande fatia de sua produção absorvida pelo mercado externo. Nesse ínterim, o preço desse suplemento protéico tornou-se menos competitivo para o mercado interno.
Diversas alternativas alimentares vêm recebendo atenção com vistas à elevação do conhecimento científico e da tecnologia de utilização na alimentação de ruminantes. No entanto, nenhuma tem se mostrado tão promissora como os subprodutos da cultura do algodão.
Segundo o NRC (2001), o farelo de soja pode ser substituído pelo farelo de algodão nas rações de ruminantes sem grandes prejuízos zootécnicos, desde que as exigências nutricionais sejam mantidas.
O farelo de algodão contém 44,3% de PB; 5% de EE; 6,6% de cinzas; 12,8% de FB; 28% de FDN; 20% de FDA e 78% de NDT em sua matéria seca (NRC, 2001).
O farelo de algodão tem sido utilizado com o objetivo de reduzir o uso do farelo de soja, visando a obtenção de condições econômicas mais vantajosas, e muito embora apresente menores teores de energia e proteína, é caracterizado por apresentar maior teor de proteína não degradável no rúmen. Quanto a esta degradabilidade, para o farelo de algodão temos valores de 49%, enquanto que para o farelo de soja esse percentual pode chegar a 80% da proteína consumida.
A proteína não degradável no rúmen é muito importante para animais de elevada produção, por proporcionar digestão intestinal da proteína alimentar, favorecendo o aproveitamento de um melhor perfil de aminoácidos e evitando perdas de nitrogênio na forma de amônia.
Na inclusão do farelo de algodão na alimentação de bovinos leiteiros há de se considerar que, por ser um alimento rico em lipídeos, possui alta densidade energética, o que favorece o aporte de energia por unidade de matéria seca ingerida, característica nutricional importante para animais de elevada exigência, como vacas em pico de lactação.
Embora seja reconhecida a qualidade dos subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes, permanecem os problemas resultantes da presença do gossipol nestes derivados. O gossipol é um fator antiqualitativo que interfere no desempenho reprodutivo dos animais. Reações fisiológicas diversas podem ocorrer, dependendo do estágio produtivo e nutricional do animal.
Até recentemente considerava-se que os ruminantes poderiam inativar mais gossipol do que seriam capazes de consumir. No entanto, métodos modernos de extração do óleo têm aumentado a concentração deste composto fenólico nos subprodutos, ao mesmo tempo em que as vacas de alta produção tendem a aumentar a ingestão de alimentos e, consequentemente, a de gossipol.
Assim, com avanço tecnológico os processos de extração de óleo tornaram-se mais eficientes, traduzindo-se em subproduto de menor valor nutritivo – menor teor de óleo residual e maiores teores de gossipol. Tratamentos físicos ou químicos constituem-se em alternativas viáveis no processamento de rações, com o objetivo de incrementar a eficiência de sua utilização.
A extrusão é um método de processamento de rações que utiliza elevada temperatura e pressão, proporcionando maior gelatinização do amido e menor digestibilidade da proteína no rúmen, através da desnaturação da mesma. Além de inativar os fatores antiqualitativos presentes nos alimentos submetidos ao processo, já que altas temperaturas aumentam a formação de ligações do gossipol com outras moléculas, o que o torna fisiologicamente inativo.
Com base na tecnologia disponível a Bunge Alimentos (2007) desenvolveu o farelo de algodão com alta energia; este alimento é obtido a partir dos caroços (cariopses) que primeiramente passam por extrusão e posteriormente são prensados para extração do óleo. Tal processo de extração do caroço de algodão semideslintado confere ao alimento as seguintes especificações: Proteína Bruta, 28%; Fibra em detergente neutro, 50%; Extrato etéreo, 8% – dados expressos na matéria natural, tornando-o um produto bastante equilibrado para os ruminantes. Além de serem minimizados os fatores antinutricionais, por exemplo, o gossipol livre com um teor < 5 mg/kg de produto.
Lima Júnior (2009) avaliou o consumo e a digestibilidade aparente de nutrientes em ovinos alimentados com dietas contendo diferentes níveis (0%, 20%, 30% e 40%) de inclusão do farelo de algodão de alta energia em uma ração completa a base de milho e soja. Não houve influência da adição do farelo de algodão nos consumos de matéria seca (MS) (g/dia); extrato etéreo (EE) (g/dia); energia bruta (EB) (kcal/kg/dia); carboidratos totais (CHOT) (g/dia). No entanto, os consumos de proteína bruta (PB) (g/dia); matéria orgânica (MO) (g/dia); e matéria seca (% PV), diminuíram com o nível de 40% de inclusão. Para os coeficientes de digestibilidade não houve resposta para PB (%) e EE (%). No entanto, a digestibilidade da MS (%); MO (%); EB (%); e CHOT (%), diminuiu com a inclusão de 40% de farelo de algodão de alta energia. O farelo de algodão extrusado pode ser incluído em níveis de até 30% em rações completas para ruminantes sem alterar significativamente o valor nutritivo da ração total.
Alves (2008), trabalhando com níveis crescentes de inclusão de farelo de algodão de alta energia (zero, 8,7; 17,4; 26,1; e 34,8% na matéria seca) em substituição ao farelo de soja no concentrado para vacas no terço final de lactação, avaliou o efeito sobre o consumo, digestibilidade, produção e composição de leite e viabilidade econômica da ração. Os aumentos dos níveis de farelo de algodão de alta energia não afetaram o consumo de matéria seca, matéria orgânica, proteína bruta, fibra em detergente neutro. Observou-se efeito sobre o coeficiente de digestibilidade apenas sobre o extrato etéreo, que fica maior para os níveis de inclusão de 8,7; 26,1; e 34,8%. A eficiência de utilização de nitrogênio e os teores de nitrogênio uréico no sangue e no leite não foram afetados por nenhum dos níveis de inclusão, bem como a eficiência alimentar, a produção de leite e o teor de gordura no leite.
Portanto, a utilização do farelo de algodão de alta energia surge como uma alternativa promissora na alimentação de bovinos leiteiros, por apresentar equilíbrio entre teor energético e protéico, por possuir proteína de baixa degradabilidade ruminal que contribui para a melhoria do perfil aminoacídico absorvido no intestino e por conter níveis seguros de gossipol que permitem desempenho zootécnico satisfatório.
Referências Bibliográficas
ALVES, A. F. Substituição do farelo de soja por farelo de algodão de alta energia na dieta de vacas em lactação. Cuiabá, MG: UFMG, 2008. 76f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Programa de Pós-graduação em Ciência Animal, Cuiabá, 2008.
BUNGE ALIMENTOS. Farelo de Algodão de Alta Energia. Disponível em < HTTP://www.bungealimentos.com.br/nutricao/artigo.asp?id=3048 >, Acesso em: dezembro de 2008.
LIMA JÚNIOR, D. M. Avaliação do farelo de algodão (Gossipum spp.) extrusado na dieta de ruminantes: Consumo e Digestibilidade. Mossoró, RN: UFERSA, 2009. 32f. Monografia (Graduação em Zootecnia), Mossoró, 2009.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requirements of dairy cattle. 7ª Revised ed. Washington, National Academy Press, D.C., 2001. 381 p.
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