Excelente a publicação da Embrapa sobre as técnicas utilizadas no manejo do gado de leite. Postamos aqui a apresentação deste importante documento:
Apresentação
A literatura internacional sobre o desenvolvimento setorial demonstra que
o usual é um país fechar a sua economia e apoiar o setor que se deseja ver
desenvolvido. Dessa forma, busca-se reduzir a competição até que o setor
priorizado tenha maturidade suficiente para participar de uma competição
aberta com outros países.
O Brasil adotou este modelo nos meados da década passada, quando decidiu
pela industrialização. Foram criadas barreiras à importação visando a substituição
dos produtos importados pela produção nacional. Esta estratégia mostrouse
bem-sucedida por quase três décadas e é uma das vigorosas explicações
do sucesso alcançado pelo Brasil enquanto nação de desenvolvimento tardio.
Todavia, essa estratégia foi danosa para o setor lácteo nacional. A produção
cresceu muito pouco nos anos sessenta e setenta e a disponibilidade de lácteos
era gerada permanentemente com a participação d produtos importados.
Quando, nos anos noventa, o Brasil abriu sua economia e deixou de regulamentar
a atividade, o cenário transformou-se totalmente. As vantagens comparativas
do Brasil neste setor se revelaram, a produção cresceu principalmente
por incorporação de tecnologia e o Brasil reduziu, em pouco tempo, o seu
déficit interno de produção em relação ao consumo. Mais que isso, a partir de
2004 passou a ter saldo suficiente para se inserir gradativa e continuamente
no mercado internacional como exportador de leite. Portanto, o Brasil promoveu
a substituição de importações não em regime de economia fechada, como
propõe os manuais, mas com economia aberta a competição.
Vencido o desafio da quantidade, outro desafio se coloca, ou seja, é necessário
melhorar a qualidade para a matéria-prima, que irá assegurar a conquistas
de novos mercados. Mais que isso, é fundamental a melhoria de qualidade
sem transformar este desafio em barreira para produtores familiares, que têm
pouco capital disponível para investimentos em suas propriedades.
A Embrapa Gado de Leite vem trabalhando a questão da qualidade desde o
início dos anos noventa, quando o assunto ainda não despertava o interesse do
setor produtivo nacional. De sua equipe técnica surgiram os primeiros documentos
que culminaram na atual Instrução Normativa 51. Além disso, pesquisas
Produção de leite com qualidade em projeto de assentamento: a intervenção como inovação
realizadas por sua equipe concluíram pela possibilidade da criação de tanques
de resfriamento comunitários, que sepultou as afirmações de que produtores
familiares com baixa produção seriam excluídos em função da nova legislação.
A produção em assentamentos vem crescendo nos últimos cinco anos. Por outro
lado, é raro o assentamento em que o leite não é importante fonte de emprego
e renda para os que deles participam. Portanto, entender os condicionantes da
produção de leite em assentamento é algo fundamental, sob a ótica econômica
privada (industria e assentados), e sob a ótica social, variável de interesse de Governos
e de estudiosos sensíveis a um desenvolvimento justo e sustentável.
A publicação desse livro, fruto da Dissertação de Mestrado de Fábio Diniz, chega
num momento muito oportuno, pois lança luz numa zona cinzenta, pouco discutida
e conhecida. Ao estudar com lupa um assentamento, Diniz concluiu as
restrições à produção de leite com qualidade relacionam-se, principalmente, com
a precariedade das estruturas de produção nas propriedades; com o desconhecimento
pelos produtores das normas e procedimentos para produção de leite com
qualidade; com o número insuficiente de técnicos para orientar os produtores;
com a desestruturação dos pontos de recepção do produto; com a conservação
deficiente das estradas, principalmente no período chuvoso do ano; e, também,
com a ausência de um programa de intervenção planejado para a melhoria da qualidade
do leite. Como se percebe, todas as restrições listadas são de ordem estrutural.
Todavia, nenhuma que possa ser considerada impossível de ser transposta.
Com este estudo, seguramente será possível fomentar a discussão para que
ocorra um comprometimento de prefeituras e instâncias de Governos estaduais
e federais e também de entidades privadas, visando inserir os assentamentos
nesta nova etapa da produção láctea nacional. Afinal, as conclusões obtidas
neste estudo de caso, seguramente retratam os problemas enfrentados num
segmento da produção brasileira que cresce a produção de modo consistente,
e que depende do leite para poderem crescer enquanto cidadãos.
As informações contidas nesta publicação deram suporte para o projeto realizado
em parceira com a Fundação Arthur Bernardes e Ministério do Desenvolvimento
Agrário (Programa Fome Zero) sobre a validação do Kit Embrapa
de Ordenha Manual.
Paulo do Carmo Martins – Chefe-geral da Embrapa Gado de Leite
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