Os estoques de 
passagem elevados após a supersafra de milho colhida em 2016/2017 devem 
pressionar os valores pagos pelo cereal no ano que vem, atingindo 
patamares menores que os deste ano. Em média, o valor em 2018 deve ser 
15,5% inferior ao estimado para 2017, conforme projeção do Banco Pine.
A média de preços da commodity deve 
encerrar este ano em R$ 29,10 a saca de 60 quilos, estima o economista 
do banco Pine, Lucas Brunetti. Para o ano que vem, a projeção é de um 
valor médio de R$ 24,60 a saca. "A média será um pouco menor uma vez 
que, no começo de 2017, os valores da saca ainda refletiam a escassez do
 grão no ano anterior", diz Brunetti.
Ao longo de 2017, os preços do grão 
recuaram fortemente, pressionados pela supersafra de 2016/2017, que 
chegou a 97 milhões de toneladas, de acordo com estimativa da Companhia 
Nacional de Abastecimento (Conab). No ano anterior, o cenário era 
inverso: a falta de milho fez com que a commodity chegasse a um preço 
médio de R$ 44 a saca.
Para Brunetti, o estoque de passagem de 
milho estimado em 15,2 milhões de toneladas - 11 milhões de toneladas a 
mais do que o estoque do ciclo anterior, segundo o banco -, deve evitar 
uma retração significativa dos preços caso a perspectiva de redução de 
produção na próxima safra se concretize. Isso considerando um cenário de
 exportações de 35 milhões de toneladas do grão, como espera o mercado.
A opinião de Brunetti, porém, não é 
unânime. Para o consultor Carlos Cogo, a expectativa de uma quebra na 
primeira safra do grão no ciclo 2017/2018 deve ser suficiente para 
garantir uma recuperação de preços. "Já houve uma recuperação de preço 
expressiva e a tendência é de um mercado altista para o fim de 2017 e o 
ano de 2018", afirma. De janeiro a setembro deste ano, o valor médio da 
saca FOB no Paraná foi de R$ 24,73. No ano passado, essa média foi de R$
 40,72. No Paraná, os preços subiram 13,9% desde julho. E em São Paulo, o
 aumento já alcançou 20,7%, diz o consultor.
Ele também aponta como fator para o 
aumento dos preços o atraso no plantio de soja causado pela estiagem, e 
que pode fazer com que o cultivo da segunda safra de milho seja feito 
fora da janela ideal. "Isso amplia o perigo na safrinha", diz Cogo.
Para ele, as exportações de milho, que 
devem chegar a 32 milhões de toneladas neste ano ante 18 milhões de 
toneladas embarcadas no ano passado, também pesam neste cenário. "No 
primeiro semestre o País não exportou quase nada. Em agosto, foram 5,2 
milhões de toneladas e, para setembro, os embarques devem chegar a 6,5 
milhões de toneladas, o que seria um recorde mensal", estima.
Carnes
O preço do grão é um item crucial para os 
custos de produção de criadores de aves, suínos e bovinos, que vêm 
aproveitando os preços baixos da commodity no mercado interno. Para o 
presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco
 Turra, não há motivo para preocupação no momento. "Os fornecedores do 
grão para o setor, além do Brasil, como Argentina e o Paraguai, estão 
com bons níveis de estoque de passagem", diz Turra. "E há ainda o milho 
dos Estados Unidos, cujas importações foram viabilizadas em 2016", 
afirma.
Para o presidente da comissão de pecuária 
de corte da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), Maurício Velloso, a
 oscilação nos preços tem um impacto mais significativo para o 
confinador não profissional. "Este ano foi muito favorável para a compra
 de insumos e boa parte dos profissionais deve ter se resguardado para 
atender à demanda", afirma. "Além disso, ainda temos uma janela extensa e
 favorável à compra."
Brunetti pondera que, embora o custo do 
milho possa estar baixo no momento, a receita não está tão boa para o 
setor, que teve um ano conturbado com diversas crises em 2017. "As 
grandes empresas não estão manifestando interesse em ampliar a demanda 
pelo grão."
Nova safra
Para o ciclo que se inicia, a perspectiva 
de Brunetti é de 91,1 milhões de toneladas totais do grão, 7 milhões de 
toneladas a menos do que a Conab prevê para 2016/2017. Considerando 
apenas a safra de verão, a retração deve ser de 23%, para 24,1 milhões 
de toneladas na comparação com o mesmo período do ano passado.
Essa queda é reflexo de uma menor área 
cultivada projetada para a safra verão, prevista em 5 milhões de 
hectares, 10% a menos do que na temporada passada. A produtividade 
também deve ser menor em relação ao ciclo passado, quando atingiu 
patamares acima da média na safra cheia de 2016/2017.
O plantio já teve início no Rio Grande do 
Sul, onde a área plantada já chega a 40% dos 731,2 mil hectares 
previstos e 12% no Paraná, que deve cultivar 344,5 mil hectares no 
verão.
Para a safrinha, o economista do banco 
Pine aposta em uma produção de 67 milhões de toneladas, queda de 5,6% 
ante as 71 milhões de toneladas colhidas neste ano. "Não acredito que vá
 acontecer uma grande expansão de área neste ciclo, já que houve um 
aumento significativo na temporada passada".
A expectativa do presidente da Abramilho, 
Alysson Paolinelli, é mais otimista. "Esperamos que a safrinha cresça o 
suficiente para compensar as perdas na safra de verão, para que possamos
 ao menos empatar a produção desta temporada com a da anterior", afirma.